quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A batalha político-imobiliária pelo controle de Jerusalém

Em 1947, logo após a divisão da Palestina, a ONU colocou Jerusalém sob mandato internacional. No ano seguinte, com a guerra da independência, Israel se apoderou do setor oeste da cidade, enquanto que o setor oriental passou para controle da Jordânia. Durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel anexou Jerusalém Oriental. Hoje, à força de investimentos, compra de terras e restrições específicas aos palestinos, Jerusalém se move entre a modernidade de seu setor israelense e a pobreza da parte oriental. Jerusalém é o território de um combate imobiliário em cujo interior se movem as sombras da geopolítica. A reportagem é de Eduardo Febbro.

Cada pedra é um conflito, cada muro uma leda, cada rocha o rastro sagrado de algum Deus diferente: Jerusalém. Suprema, mágica, polifônica, acolhedora, juvenil, discriminatória e veloz. Capital “eterna” para os judeus, capital da palestina “histórica” para os palestinos, capital fundacional do cristianismo, Jerusalém é uma viagem dentro da viagem, um labirinto de ódio e de amor que está no centro da disputa territorial entre israelenses e palestinos, onde intervém corporações secretas, milionários norteamericanos, ritos religiosos corrompidos por dólares, capitais árabes bloqueados e uma política urbana de manifesto isolamento.

Uma mesma cidade, três religiões, islamismo, cristianismo, judaísmo, três histórias, dois nomes diferentes: Yerushalayim – a paz aparecerá – para os judeus, Al Qods – a santa – para os árabes. Nesta capital poliglota, de cruzes e contrastes, convergem os relatos fundadores das três religiões monoteístas: para os árabes, Jerusalém é, depois de Meca e Medina, o terceiro lugar santo do Islã. Para os judeus, Jerusalém é a cidade conquistada pelo rei Davi no ano de 1004 antes de Cristo, logo depois de Davi se unir às tribos de Israel. Para os cristãos, Jerusalém é o epicentro dos atos fundadores do cristianismo, o lugar onde Cristo viveu a paixão e a ressureição. Jerusalém, capital de quem? A resposta é inequívoca. Como diz Khaled, um comerciante da célebre rua Salah Ad Din, de Jerusalém Oriental: “é de quem tiver mais capital e poder para se apropriar dela”.

Em 1947, logo após a divisão da Palestina, a ONU colocou Jerusalém sob mandato internacional. No ano seguinte, com a guerra da independência, Israel se apoderou do setor oeste da cidade, enquanto que o setor oriental passou para controle da Jordânia. Mas durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel anexou Jerusalém Oriental. Em 1950, a cidade foi declarada capital do Estado de Israel e, em 1980, a Knesset, Parlamento israelense, a elevou à condição de “capital eterna”. Hoje, à força de investimentos, compra de terras e restrições específicas aos palestinos, Jerusalém se move entre a modernidade de seu setor israelense e a pobreza da parte oriental. Um mundo estagnado, marcado pela ausência de infraestrutura urbana e falta de investimentos, e outro mundo desenvolvido, uma cidade moderna, luminosa e cuidada.

A fronteira entre a luz e a limpeza e o caos e a miséria é invisível. Basta descer até o começo de Jaffa Street, dobrar à esquerda, caminhar trezentos metros e, pronto, você está em outro planeta. Na parte leste da cidade não há cinemas, nem teatros, nem bares atraentes. Apesar de seu declarado laicismo, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, mantem as limitações aos investimentos palestinos em Jerusalém. Ainda que representem 59% da população de Jerusalém Oriental, os palestinos só estão autorizados a construir em 13% desse setor. As permissões de construção demoram uma década para serem outorgadas. Isso leva os palestinos a erguer construções ou ampliar suas casas sem autorização, o que implica a imediata demolição desses puxados.

As cifras sobre os investimentos municipais são eloquentes. Os palestinos representam 35% da população global, mas só entre 10 e 12% do orçamento municipal é utilizado para investimento em obras de infraestrutura no setor leste. Cerca de 80% das ruas corretamente asfaltadas e dos bueiros em bom estado estão na zona judia da cidade, onde também há 1.000 jardins públicos contra 45 em Jerusalém Oriental. Persiste uma inesgotável sensação de que tudo é feito para levar os palestinos a deixar Jerusalém.

Nada reflete melhor a complexidade da situação do que o bonde inaugurado em 2011. A linha percorre 14 quilômetros em ambos os sentidos, desde o bairro de Pisgat Zeev, em Jerusalém Leste, até Monte Herzl, na parte oeste. Em seu trajeto, a linha é uma espécie de bomba geopolítica: passa pelos bairros judeus construídos no setor de Jerusalém anexado logo depois da Guerra dos Seis Dias e onde a soberania do Estado de Israel não está plenamente reconhecida pela comunidade internacional.

Em termos do direito internacional, a ocupação e a posterior anexação de Jerusalém Leste foram condenadas pelas resoluções 241, 446, 452 e 465 das Nações Unidas, além de contraria a quarta Convenção de Genebra. A guerra pela posse da cidade tem atores econômicos de peso que jogam entre as sombras e antecipadamente a carta que pode conduzir ao reconhecimento de um Estado Palestino com Jerusalém Leste como capital. Por isso, com lances de milhões, compram o máximo de áreas possíveis.

Os negócios da Richard Marketing Corporation deram lugar a um dos controversos episódios desta confrontação pelas pedras sagradas. A Richard Marketing Corporation é, na verdade, a cobertura da organização sionista Ateret Cohanim, atrás da qual se encontra o milionário norteamericano Irving Moscowitch. Há anos, a corporação vem se dedicando a comprar casas palestinas e áreas situadas na Cidade Velha de Jerusalém, ou seja, no olho do furacão: ali estão a Mesquita de Al-Aqsa (Maomé foi de Meca até a Mesquita de Al-Aqsa), o Domo da Pedra (os muçulmanos acreditam que Maomé subiu aos céus neste local), o Muro das Lamentações (o último vestígio do Templo de Jerusalém, que é o emblema mais sagrado do judaísmo), a Esplanada das Mesquitas e um sem número de edificações ligadas à história do cristianismo, entre elas o Santo Sepulcro.

A Cidade Velha, localizada em Jerusalém Oriental, está dividida em quatro setores: muçulmano, judeu, cristão e armênio. Ali a corporação colocou seus dólares para comprar casas palestinas, cristãs e, sobretudo, áreas e secessões negociadas com a Igreja Ortodoxa Grega. O patriarca Irineu primeiro, hoje recluso em sua espiritualidade, cobrou vários milhões por baixo da mesa em troca de um “aluguel” de 99 anos de um dos lugares mais emblemáticos da Cidade Velha, situado na Porta de Jaffa. Por curioso que pareça, partindo desde a Porta de Jaffa, a primeira placa indicando o Santo Sepulcro está escrito em vários idiomas, incluindo o hebraico, menos em árabe.

Arieh King, um membro notório de Ateret Cohanim, levou anos comprando quantas casas aparecessem em seu caminho na Cidade Velha e em Jerusalém Oriental. Homem franco e sem rodeios, King está a frente da organização Israel Land Fund. Não tem nada a ocultar: “Jerusalém é o lugar mais importante do projeto sionista. Nós estamos comprando dos árabes para colocar judeus em seu lugar. Não aceitamos que Jerusalém seja dividida”. Arieh King é um autêntico agente imobiliário da judaização de Jerusalém e não esconde isso. Tem em seu “currículo” dezenas de casas compradas e – isso ele não confessa – acordos de compra e aluguel com várias congregações cristãs sensíveis ao dinheiro em cash. Nada o detém, nem sequer a compra de casas palestinas e, além do preço elevado que paga, consegue “a obtenção de um visto para que o vendedor vá para o exterior”.

A história de Arieh King merece um capítulo a parte. Sua atividade, financiada com fundos provenientes do mundo inteiro, tem o mérito da transparência ao mesmo tempo em que revela a luta pela posse da Cidade Santa. “Trabalho para o futuro da nação judia”, proclama sem titubear. Os cristãos palestinos denunciam essa política aplicada de judaização de Jerusalém. Árabes, muçulmanos e cristãos de Jerusalém viram a maneira pela qual, pouco a pouco, as casas situadas nas ruelas da Cidade Velha que levam ao Templo foram mudando de proprietário.

A batalha imobiliária é uma corrida contra o relógio. Para retomar as negociações de paz, além das fronteiras de 1967, do fim da colonização e do retorno dos refugiados, a Autoridade Palestina reivindica como condição que Jerusalém Oriental seja a capital de um futuro Estado Palestino. Políticas de Estado, municipais e agentes privados participam dessa corrida. Jerusalém é o território de um combate imobiliário em cujo interior se movem as sombras da geopolítica.

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cortadores de cana usam crack para suportar jornada de 14h

Relatório produzido pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas apresenta realidade das drogas no estado de São Paulo

23/09/11


Jorge Américo
Radioagência NP 

Durante visitas feitas aos municípios paulistas, deputados estaduais receberam denúncias de que usineiros estão incentivando o uso do crack entre os cortadores. O objetivo é aumentar a produtividade. Em muitos casos, o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar se estende por até 14 horas, sem interrupções.
Essa prática foi revelada pelo deputado Donisete Braga (PT), na apresentação de um relatório produzido pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, nesta terça-feira (20).
O relatório traz dados gerais sobre de consumidores da droga no estado. Os números indicam que jovens com idade entre 16 e 25 anos representam 57% dos usuários da droga em São Paulo.
Para Daniel Adolpho Assis, advogado do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA), a situação é resultado da disseminação do crack no interior e faixa litorânea do país. Ele acrescenta que os jovens são as maiores vítimas da superexploração do trabalho.
“Ainda não foi exterminado o trabalho forçado e o trabalho escravo propriamente dito no Brasil. Há muita gente que ainda morre por exaustão. Ou seja, por efeito negativo e danoso na saúde a partir da exploração do trabalho. O crack vem para anestesiar, sendo uma droga potente e extremamente aditiva, que causa dependência rapidamente.”
O crack é consumido no mesmo percentual que o álcool em municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes. Apenas 12% dessas localidades recebem recursos federais para programas de enfrentamento ao problema. Já os repasses estaduais chegam em apenas 5% dos municípios.
Uma pedra de crack pode ser comprada por até R$ 2. O uso crônico provoca perda de peso e aumenta o risco de infecções. O usuário pode apresentar quadros de psicose, agressividade, paranóia e alucinações.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Desemprego pode afetar mais 40 mi de pessoas no G20 em 2012

Segundo estudo da Organização Internacional do Trabaho (OIT) e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o atual ritmo de geração de empregos nos países do G20 deve fazer 40 milhões de vítimas no ano que vem. Com 200 milhões de trabalhadores já afetados, situação é 'preocupante' e aproxima-se do pior momento da Grande Depressão dos anos 30. Ministros do Trabalho do G20 debatem crise em Paris.

BRASÍLIA – Os ministros do Trabalho dos vinte países com as maiores economias, o G20, reúnem-se nesta segunda-feira (26) e terça (27), em Paris, para debater a crise global diante de estatísticas e perspectivas preocupantes. Hoje, há mais de 200 milhões de desempregados espalhados por aquelas nações, dos quais 10% foram demitidos desde a eclosão da primeira etapa da crise, há três anos. E, em 2012, a desocupação pode vitimar outros 40 milhões de trabalhadores.

Para voltar a ter um nível de emprego anterior a 2008, com recuperação de postos cortados e absorção de jovens que entraram no mercado de trabalho de lá para cá ou que o farão até 2015, o G20 teria de abrir 21 milhões de vagas em quatro anos. O que significa uma alta anual de 1,3% na taxa de emprego.

Hoje, porém, a expecativa é de uma taxa de crescimento do emprego de 0,8% até o fim do ano que vem. Que, se confirmada, causará um déficit adicional de 40 milhões de empregos dentro do G20, agravando um quadro já preocupante, que lembra a desolação vivida pelos trabalhadores durante a Grande Depressão econômica dos anos 30.

Os dados e as análises fazem parte de um estudo elaborado em conjunto pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O documento, divulgado segunda-feira (26), vai subsidir a reunião dos ministros do Trabalho em Paris.

Em declaração conjunta sobre o estudo, o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, e o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, se dizem “preocupados” com “a gravidade da crise do emprego”. “Está afetando de forma particularmente dura os grupos mais vulneráveis”, afirmam, fazendo referência a jovens e trabalhadores informais (sem direitos).

Brasil: exceção e Bolsa Família
No encontro em Paris, os ministros do Trabalho devem discutir propostas apresentadas em um outro documento da OIT sobe proteção social mínima. O texto, preparado sob a coordenação da ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, recomenda aos países que dêem uma “genuína prioridade política” a ações de proteção social.

Para a OIT, este tipo de programa é importante para ajudar os países a superar crises sem impor tantos sacrifícios a suas populações, a manter a economia girando e a reduzir pobreza e desigualdade. O documento cita o Bolsa Família brasileiro como exemplo de política social para tempos de crise.

No texto sobre a “crise do emprego”, o Brasil também é mencionado como integrante de um subgrupo do G20 no qual a abertura de postos de trabalho tem sido “poderosa”, apesar da crise global (Alemanha e Indonésia também estão no grupo).

As outras duas correntes têm países com baixa ou nenhuma geração de empregos (casos de Argentina, Rússia e Austrália). E com desemprego em alta (Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e África do Sul, por exemplo).

Em Paris, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reforçou as observações da OIT sobre a situação do país nesta crise. Para ele, como o Brasil tem hoje “protagonismo perante o mundo” no mercado de trabalho, já que deve gerar este ano mais de 10% das vagas formais (cerca de 2,5 milhões) de que todo o G20 precisa por ano.

Na semana passada, ao abrir a Assembléia Geral das Nações Unidas, a presidenta Dilma Rousseff também havia dito que o Brasil continua criando empregos, enquanto o mundo – especialmente o rico – sofre com desemprego.

domingo, 25 de setembro de 2011

‘Wall Street é nossa rua’

Foto: Leesean/Flickr
Há quase uma semana, manifestantes ocupam o centro do capitalismo financeiro no Mundo, em Wall Street, Nova York. Depois de passar pelo Oriente Médio, Europa, América do Sul, a onda de protestos chegou aos EUA no dia 17 de setembro. Cerca de 2000 pessoas foram à Liberty Plaza se manifestar no sábado, ao lado da sede da Nasdaq, principal bolsa de valores dos Estados Unidos e permanecem lá até agora.
Intitulado de #OcuppyWallStreet, o movimento afirma lutar contra ao 1% corruptos que prejudicam os outros 99% da população americana. O cerne da corrupção, dizem, é a especulação financeira dos investidores de Wall Street e cuja ação irresponsável deflagrou a crise econômica em 2008 que persiste até hoje.
O modelo segue as manifestações no resto do mundo: jovens, com alta participação nas redes sociais e que foram atingidos em cheio pelo desemprego gerado na crise econômica.
Os participantes reivindicam a penalização dos homens de Wall Street, que cometeram uma série de crimes financeiros no cerne da crise econômica. Além disso, criticam o sistema político americano, baseado na prática do lobby, submetido aos interesses do Banco Central (Fed) e dividido entre dois partidos – democratas e republicanos – que acabam por travar uma série de discussões na Câmara dos Deputados. Cartazes como “Pessoas, não lucros”, “Wall St. tem dois partidos, precisamos do nosso próprio”, “Não posso comprar meu lobista, faço parte dos 99%”, “AIG, Bank of America, Goldman Sachs, Citi, JPMorganChase – Por que vocês não estão na cadeia?” ilustram esse cenário.
Foto: Paul Weiskel
Seguindo o modelo das outras manifestações ao redor do mundo, os participantes são também auto-organizados. Desde sábado, a polícia divide espaço com os manifestantes. Uma série de prisões foi realizada na quarta-feira 21, com o argumento de que é proibido ocupar calçadas públicas. A ação contribuiu para aumentar a indignação do movimento. Os protestos se espalham pelo país. Há registros de movimentações em São Francisco, Los Angeles, Atlantida, Chicago, Phoenix e Cleveland.
Em 2008, a super-especulação sobre o preço de hipotecas e práticas financeiras sem regulação levaram os maiores bancos do país a beira da falência. Um aporte financeiro estatal histórico salvou as instituições. Três anos depois, o governo decretou elevação do teto da dívida e reajuste fiscal, incidindo justamente sobre a classe trabalhadora.
Foto: Paul Weiskel
“Débitos entre os muito ricos ou entre governos sempre pode ser renegociado. Mas quando é um pobre que deve a um rico, pagar se torna uma obrigação sagrada. Renegociar é impensável”, afirma David Graeber, ativista do movimento, em  entrevista ao jornal britânico The Guardian.
O movimento reflete a perda de popularidade do governo americano em meio a crise econômica – a Câmara possui hoje cerca de 15% de aprovação – e a perda da onipotência financeira do estado, consumido por gastos com as infrutíferas guerras que o país iniciou.
Foto: Paul Weiskel
Além da indignação quanto à estrutura econômica e política do país,  os manifestantes protestaram também contra a morte de Troy Davis. Davis foi submetido à pena de morte nesta quarta-feira 21 sem provas suficientes que o julgassem culpado. “Em 21 de setembro, Troy Davis, um homem inocente, foi assassinado pelo estado da Georgia. Troy Davis era um dos 99%”, escreveram os manifestantes no blog do movimento.
Em tempo real, um vídeo mostra a rotina dos particiapantes reunidos em fóruns de discussão, tocando instrumentos musicais ou comendo a pizza gratuita oferecida por uma das lanchonetes do bairro.


Anonymous atacam Wall Street


Integrantes da versão brasileira do grupo Anonymous posam para foto no vão do Masp. Foto: Renatro Testa
Não foi uma multidão de proporções egípcias mas, para o contexto dos EUA, é extremamente significativo e ela promete não ir embora. A revista Fórum conta, num texto de Idelber Avelar, como começou a ocupação de Wall Street. Alguns poucos milhares de pessoas saíram às ruas, sábado passado, no sul da ilha de Manhattan, o coração do capital financeiro dos EUA.
Elas prometiam permanecer lá e muitos apostam que a concentração vai crescer neste final de semana.
Completamente ignorada pela mídia televisionada e impressa, o movimento se articulou pela internet.
Os quarteirões de Wall Street ficam entre as ruas Broadway e William, segundo relato de Idelber Avelar. Não houve grandes distúrbios na semana passada, mas a polícia nitidamente se confundiu com o caráter descentralizado da manifestação. Vários presentes relataram que era insistente a demanda “queremos falar com o líder”, ante a qual a resposta recebida era invariavelmente “não há líder”
Há um total blecaute midiático sobre o movimento, relata Avelar. Fox News, CNN e MSNBC, os três principais canais de notícias da TV a cabo, não noticiaram nada. As quatro principais emissoras da TV aberta, ABC, CBS, FOX e NBC, também não.
Na seção de tecnologia de seu site, a CNN deu uma bizarra matéria que dizia que o movimento “tentava imitar o Irã”. O New York Times não deu uma linha no jornal propriamente dito, mas só uma notinha no blog.
Muitos manifestantes falam em permanecer em Wall Street durante semanas ou meses, num grito de revolta contra o capital financeiro. Foto: Paul Weiskel
Na noite de sábado, a assembleia popular decidiu passar a noite lá e, permaneceram. Neste domingo, espera-se a chegada de mais gente. Muitos manifestantes falam em permanecer em Wall Street durante semanas ou meses, num grito de revolta contra o capital financeiro. Na segunda-feira, evidentemente, a polícia já não terá como fechar Wall Street, e é nisso que o movimento aposta.
Há algumas fontes para acompanhar esse acontecimento. A tag no Twitter é #OccupyWallStreet. O Anonymous está postando vídeos. A pequena cadeia de televisão de Washington RT Television está cobrindo o evento. Também há notícias e vídeos no Scoop it.
Dada a acumulação de revolta contra o capital financeiro nos EUA, o movimento tem muito potencial para crescer. Pode ser que fique interessante a coisa.
A revista Fórum aproveitou o protesto em Wall Street para uma reportagem ampla sobre o Anonymoyus, que tem realizado ações políticas impactantes em vários cantos do mundo.
Um movimento que não é de esquerda, de direita e nem de centro. O que não significa que guarde qualquer relação “programática” com o partido criado pelo prefeito paulistano. Mas nada nada a ver com o partido inventado pelo prefeito Kassab.
Anonymous, lembra a Fórum, é um típico movimento nascido na era das redes e da revolução cibernética. Não tem hierarquia e, por isso, não tem líderes, liderados e figuras públicas. Não reconhece as organizações intermediárias e não vê muito motivo de ter bandeiras políticas.
Mas, desde 2008, deram muito trabalho para empresas ou instituições públicas que têm atuado contra a liberdade na rede.
Manifestantes toman as ruas de Nova York em protesto contra a ordem econômica. Foto: Leesean/Flickr
O primeiro alvo do grupo foi a Igreja da Cientologia, uma seita desconhecida no Brasil, mas que abriga vários pop-stars de Hollywood, como Tom Cruise e John Travolta.
Depois vieram a Sony, o FBI, a Fox News, os governos da Tunísia, do Egito e da Espanha e, em julho, sites do governo brasileiro, que foram atacados por um braço do grupo que se autodenomina LuzlSec.
Qual o significado dessas ações?, indaga a Fórum.
Talvez mais do que buscar a resposta no conteúdo, nesse caso, vale mais olhar a forma.
Essas ações podem significar que estamos entrando num outro campo das disputas pelo poder. No qual a ação do Anonymous é apenas uma amostra do que ainda está por vir.
Um dos entrevistados da revista, o professor Sergio Amadeu, diz que os próximos conflitos serão entre redes de informação. O que chama de redes contra redes.
Como teria, segundo ele, acontecido no episódio da “Flotilha da Liberdade”, quando defensores da causa da Palestina e do Estado de Israel se enfrentaram na internet para convencer o maior número de pessoas para a sua causa.
Sem dúvida, a dimensão e o cenário do ativismo político mudaram. Quais serão as consequências dessa mudança, ainda é cedo para responder.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mulheres Invisíveis (2011)



Documentário que expõe a enorme diferença de reconhecimento entre o trabalho do homem e da mulher.
O desmerecimento do trabalho doméstico, por apenas não ter cifra no sistema capitalista, a diferença salarial entre os sexos desempenhando a mesma função, a dupla jornada de trabalho das mulheres mostram como ainda a sociedade brasileira ainda está longe de ser igualitária.
(docverdade)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Só no Brasil há saúde grátis e universal mas gasto privado maior

Aos 21 anos, Sistema Único de Saúde (SUS) vive 'paradoxo'. É gratuito e aberto a todos mas tem menos dinheiro do que iniciativa privada gasta para atender menos gente. Em nenhum outro país é assim, segundo a OMS. Despesa estatal brasileira é um terço menor do que a média mundial. Para especialistas, SUS exige mais verba. 'Orçamento precisa dobrar', diz Adib Jatene.

BRASÍLIA – O Sistema Único de Saúde (SUS) completa nesta segunda-feira (19) 21 anos exibindo um paradoxo. O Brasil é o único país do mundo que tem uma rede de saúde gratuita e aberta a toda a população e, ao mesmo tempo, vê o mercado (convênios e consultas particulares) gastar mais dinheiro do que o Estado.

O motivo da contradição, dizem especialistas, é a falta de recursos públicos para fazer com que o SUS se realize plenamente, tal qual previsto na Constituição, o que exigiria pelo menos dobrar seu caixa.

As despesas com saúde no Brasil são de 8,4% do chamado produto interno bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pelo país durante um ano. Deste ponto de vista, o investimento está em linha com a média global, de 8,5% anuais, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A distinção está em quem puxa os gastos. No Brasil, 55% são privados (e beneficiam cerca de 46 milhões de conveniados) e 45%, públicos - favorecem todos os 190 milhões de brasileiros.

A fatia estatal representa 3,7% do PIB, um terço mais baixo do que a média internacional, de 5,5% do PIB, de acordo com a OMS. No resto do mundo, o gasto público equivale a 60% do total investido em saúde.

Quando se faz comparação com países com sistemas similares ao SUS – universais e gratuitos -, a disparidade é maior.

No Reino Unido, cujo modelo montado depois da Segunda Guerra Mundial é considerado clássico e inspirou o brasileiro, a despesa pública com saúde gira em torno de 7% do PIB. O Estado britânico responde por 82% dos gastos totais, os quais são de patamar semelhante aos do Brasil (8,7% do PIB).

No Canadá, que também conta com sistema público, o governo gasta cerca de 7% do PIB em saúde e o setor privado, 2,8%.

Em dois países escandinavos que são exemplo na área, Noruega e Suécia, o Estado gasta mais de 6% do PIB e responde por 72% do investimento em saúde.

“Se comparado com outros países do mundo que adotaram o sistema universal de saúde, o Brasil gasta muito pouco”, diz o médico e ex-ministro da Saúde Humberto Costa, atual líder do PT no Senado.

“O SUS tem um saldo positivo inegável nesses anos todos, mas tem esse paradoxo: é um sistema público e universal que gasta menos do que o setor privado”, diz Solon Magalhães Vianna, um dos relatores da Conferência Nacional de Saúde que, em 1986, esboçou o SUS.

Novas fontes
Para Vianna, o gasto público em saúde deveria duplicar, o que requer novas fontes de recursos para o setor. É a mesma posição do ex-ministro da Saúde Adib Jatene.

“Quando o SUS foi criado, diziam que era inviável, que os contituintes tinham sido irresponsáveis ao não apontar fontes de financiamento. Mas a Constituição apontou as fontes, nas disposições transitórias, só que elas nunca foram regulamentadas”, diz Jatene. “Eu estimo que o orçamento do SUS precise dobrar, mas não há nenhuma possibilidade de dobrar.”

Na avaliação de outro ex-ministro, José Gomes Temporão, é “significativo” o dado da OMS sobre o gasto privado superar o público no Brasil. Especialmente porque, enquanto o investimento estatal obedece a uma política nacional, o privado às vezes termina em plásticas.

“Na Argentina, 70% dos gastos com saúde são públicos. Aqui no Brasil, quem está arcando com o acesso à saúde são as famílias”, disse. “É importante a sociedade ter clareza que, ao investir no SUS, está investindo num patrimônmio que a sociedade construiu nos últimos 22 anos”.

O secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo, Januário Montone, tem a mesma visão orgulhosa do sistema que faz aniversário. “O SUS foi uma vitória fantástica. É um sucesso, não existe nenhum sistema de saúde desse tamanho em nenhum lugar do mundo”, disse.

Ele é defensor da ampliação dos recursos para a saúde. Mas acredita que, depois de 23 anos da Constituição, o país precisa rediscutir o sistema de saúde e decidir se a iniciativa deve ou não participar dele. E, na opinião dele, deve. Até porque o próprio Estado precisa contratar serviços privados.

domingo, 18 de setembro de 2011

As cobaias humanas de Israel

Médicos denunciam que Israel testa suas novas armas na população da Faixa de Gaza, provocando mutilações, queimaduras e ferimentos

17/09/2011

Baby Siqueira Abrão
de Ramallah (Palestina)
 
O garoto de 13 anos joga futebol com os amigos na tarde ensolarada. De repente, aviões israelenses surgem no céu. Os meninos não têm tempo nem de correr: um míssil cai sobre eles.
A ambulância chega rapidamente e os leva ao hospital Al-Shifa, o maior da Cidade de Gaza, a capital da Faixa de Gaza. Alguns dos garotos estão inconscientes. Outros estão mortos.
As vítimas, em sua maioria, são mulheres
e crianças - Foto: GHN
Dias depois, o médico Ayman Al Sahbani, diretor do departamento de emergências do hospital, mostra o menino de 13 anos na cama de um cubículo cheio de aparelhos médicos. Vários pontos do corpo, todo coberto por faixas brancas, estão plugados nos aparelhos. Uma perna apoia-se numa espécie de mesinha de ferro. Os braços estendem-se ao lado do corpo. Só os braços. As mãos foram perdidas no ataque israelense.
“Quando o pessoal do socorro o trouxe, pensei que ele estivesse morto. Então o ouvi gritar: ‘Ai, mamãe!’. Levei-o de imediato para a sala de cirurgia e o operei. Várias vezes. Já faz cinco dias, e ele continua vivo. Tem queimaduras terríveis e  estilhaços de metal por todo o corpo. Será que vai poder jogar futebol de novo? Não tenho ideia.”
Ninguém sabe quem é o garoto. E essa é uma situação comum nos hospitais. Os feridos chegam, queimados, mutilados, os corpos perfurados por pedaços de metal, e são atendidos por médicos e enfermeiros exaustos, angustiados, tentando fazer com que o pouco material de que dispõem seja suficiente para todos.
Novas armas
Ali, no setor de emergência cheirando a antisséptico, o ruído dos ventiladores mistura-se ao bipe dos monitores e aos passos apressados dos profissionais cuja tarefa é salvar as vidas daqueles que chegam. A identidade dos feridos é o que menos importa nessa hora.
“As vítimas, em sua maior parte, são mulheres e crianças”, explica o médico Al Sahbani. “Vítimas civis”, ressalta. “Chegam aos pedaços, alguns queimados de tal modo que se tornam irreconhecíveis. Há 20 crianças aqui, com ferimentos que nunca vi, nem na Operação Chumbo Fundido, quando observei pela primeira vez as queimaduras provocadas pelo fósforo branco. As armas de agora são piores, causam lesões terríveis, despedaçam pés, pernas, mãos, enchem os corpos com centenas de pequenas peças de metal.”
Operação Chumbo Fundido foi o nome dado aos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, que causaram cerca de 1.500 mortes, em sua grande maioria, de civis.
Al Sahbani continua, depois de uma pausa: “Meu filho de 11 anos me pergunta por que isso acontece, por que Israel nos ataca assim. O que posso responder a ele?”.
Uma das respostas possíveis seria cruel demais para uma criança: Israel está testando, mais uma vez, suas novas armas em alvos vivos. Em seres humanos que há mais de 60 anos vivem sob ocupação israelense, e que antes disso sofreram massacres e expulsões, e viram suas casas e cidades serem destruídas ou tomadas por grupos paramilitares sionistas.
Como lembrou o diretor do departamento de emergências do hospital Al-Shifa, não é a primeira vez que essas substâncias são experimentadas na população de Gaza.  Israel admitiu o uso do fósforo branco em 2006 e em 2008- 2009, na Operação Chumbo Fundido. O que os sionistas não contaram, porém, foi a adição de metais tóxicos ao fósforo branco.
Metais cancerígenos
Mas o New Weapons Committee (NWRG), grupo de pesquisadores, acadêmicos e profissionais de mídia que estuda os efeitos das novas tecnologias de guerra, descobriu e divulgou. Embora a mídia corporativa não tenha dito uma única palavra sobre isso, o relatório do NWRG foi publicado em maio de 2010 e está à disposição de quem quiser consultá-lo: www.newweapons.org/files/20100511pressrelease_eng.pdf.
De acordo com o informe, análises em tecidos humanos enviados ao comitê por médicos de Gaza, retirados de “ferimentos provocados por armas que não deixam fragmentos nos corpos das vítimas”, encontraram “metais tóxicos e cancerígenos, capazes de produzir mutações genéticas. [...] Isso mostra que foram utilizadas armas experimentais, cujos efeitos ainda são desconhecidos”.
Movimentação de ambulâncias diante do hospital
Al-Shifa, o maior da Cidade de Gaza - Foto: GHN

A pesquisa seguiu dois estudos anteriores do NWRG. O primeiro, publicado em 17 de dezembro de 2009, estabeleceu a presença de metais tóxicos em áreas ao redor das crateras provocadas pelo bombardeio israelense na Faixa de Gaza. O último, publicado em 17 de março de 2010, apontou a presença de metais tóxicos em amostras de cabelo de crianças da região.
Ambos indicam contaminação ambiental, agravada pelas condições de vida naquele território, que propiciam o contato direto com o solo. Os abrigos expostos ao vento e à poeira, devido à impossibilidade de reconstrução das moradias – Israel não permite a entrada de materiais de construção e ferramentas necessárias – também facilitam o contato com as substâncias tóxicas espalhadas no ambiente.
Danos à saúde
O trabalho, realizado pelos laboratórios das universidades Sapienza de Roma (Itália), Chalmers (Suécia) e Beirute (Líbano), foi coordenado pelo NWRG e comparou 32 elementos encontrados nos tecidos das vítimas. “A presença de substâncias tóxicas e cancerígenas nos metais detectados nos ferimentos é relevante e indica riscos diretos para os sobreviventes, além da possibilidade de contaminação ambiental”, diz o relatório.
“Alguns dos elementos encontrados são cancerígenos (mercúrio, arsênio, cádmio, cromo, níquel e urânio); outros são potencialmente carcinogênicos (cobalto e vanádio); e há também substâncias que contaminam fetos (alumínio, cobre, bário, chumbo e manganês). Os primeiros podem produzir mutações genéticas, os segundos podem ter o mesmo efeito em animais (ainda não há comprovação em seres humanos), os terceiros têm efeitos tóxicos sobre pessoas e podem afetar também o embrião ou o feto em mulheres grávidas”, alerta o documento.
Há mais, segundo o relatório de 2010: “Todos os metais, encontrados em quantidades elevadas, têm efeitos patogênicos em humanos, danificando os órgãos respiratórios, o rim, a pele, o desenvolvimento e as funções sexuais e neurológicas”.
Paola Manduca, professora e pesquisadora de genética da Universidade de Gênova e porta-voz do NWRG, comentou, referindo-se às análises do material recolhido em 2006 e 2008-2009: “Concentramos nossos estudos nos ferimentos provocados por armas que, segundo os médicos de Gaza, não deixavam fragmentos. Queríamos verificar a presença de metais na pele e na derme. Suspeitava- se que esses metais estivessem presentes nesse tipo de armas [que não deixam fragmentos], mas isso nunca tinha sido demonstrado. Para nossa surpresa, mesmo as queimaduras provocadas por fósforo branco contêm alta quantidade de metais. Além disso, a presença desses metais nas armas implica que eles se dispersaram no ambiente, em quantidades e com alcance desconhecidos, e foram inalados pelas vítimas e por aqueles que testemunharam os ataques. Portanto, constituem um risco para os sobreviventes e para as pessoas que não foram diretamente atingidas pelo bombardeio”.
Testes bélicos
Um risco de longo alcance: um dos metais utilizados, o urânio, radioativo, é utilizado em usinas nucleares e na produção de bombas atômicas. Ele tem vida útil de aproximadamente 4,5 bilhões de anos (urânio 238) e 700 milhões de anos (urânio 235).
Em relação aos ataques atuais, de agosto de 2011, pesquisadores do NWRG comentaram, ao ver imagens de feridos, transmitidas por uma estação de TV de Gaza, que o exército israelense parecia utilizar as mesmas armas da Operação Chumbo Fundido. Engano. As de agora são mais devastadoras, segundo o médico Ayman Al Sahbani, do hospital Al-Shifa.
E permitem concluir que a nova investida contra Gaza não está ligada apenas à tentativa de tirar os indignados israelenses dos noticiários ou de deter os foguetes que brigadas como a Jihad Islâmica atiram no sul de Israel. Os ataques também servem ao propósito de observar os efeitos da mistura de novas substâncias, às quais se acrescentou a tecnologia das bombas de fragmentação.
O médico Al-Sahbani deplora a situação, pedindo que o mundo todo conheça o drama de Gaza e faça algo para detê-lo. “Somos humanos e só queremos viver com liberdade, trabalhar corretamente, ver nossos filhos crescerem livres, como em outros países”, declara. “Em outros países, as crianças jogam futebol, nadam em piscinas sem o risco de ser bombardeadas, amputadas e mortas, como acontece em Gaza. Que tipo de vida é esse para uma criança?” (com informações de Julie Webb- Pullman, do portal Scoop Independent News, diretamente de Gaza)

sábado, 17 de setembro de 2011

Educação, Sindicato e Colegiado, um longo caminho.

Por Fábio Emecê

Tendo em vista os acontecimentos da última assembléia do SEPE – Lagos, a proposta é uma reflexão do que pode ser um movimento amplo e coeso para se retomar a ideia de educação pública , tão dispersa e combalida nos dias atuais.
Quando o sindicato demonstra que estamos dentro de uma lógica de constante cooptação do Sistema de pessoas que deveriam combater ao mesmo sistema, temos que parar para pensar a nossa participação e culpabilidade no processo. Perceber a corrupção endêmica e extensiva nos torna inocentes úteis em um processo que deveriamos ser pró-ativos a ponto de não abrir precedente para cooptações.
Mas não fomos pró-ativos o suficiente para coibir a ação do Sistema, mesmo assim a assembléia mostrou que podemos fomentar uma nova participação e antes de mais nada, devemos ficar constantemente atentos a tentativa de aparelhamento do sindicato.
Que Sistema é esse que tanto falo? São as secretarias de educação, donos de escola, reitorias de universidades e governos municipais, estaduais e federal que sempre tenta desarticular os movimentos organizados, seja com a força policial e com a tática que se mostra bastante eficaz: a infiltração de corruptos nos movimentos.
O que isso gera? Desarticulação, desgaste, descredito e se perde o conceito de colegiado. As pessoas não percebem a real importância de se decidir algo em conjunto, com discussões, opiniões, transparência e convencimento. Uma diretoria dentro do que é o Estatuto do SEPE, sempre será refenderada por assembléia, ou seja, a diretoria é um instrumento de administração, mas nunca um instrumento de deliberação, a decisão sempre cabe ao colegiado, sempre.
Quando um corrupto se cria em um espaço como o nosso, é vergonhoso para nós, pois não fomos pró-ativos, só que a última assembléia provou uma coisa: ser inocente útil não pode ser mais a nossa tônica. Ser número para se refenderar ações de desarticuladores a mando do Sistema, não dá mais.
Criar outro sindicato? Antes de discutir algo desse porte, prefiro e me empenho em mostrar para os educadores o grande pulo e a grande ideia da educação pública: a participação coletiva. Tenho medo que o novo, nasça velho, ou seja, aparelhamento a vista. O estatuto do SEPE é avançado a esse ponto, mas as pessoas ainda não, cabendo um trabalho sério de fomentar a ideia de o SEPE é a trincheira de combate válida para se mudar a ideia de educação centralista, elitista e excludente.
Vamos retomar esse processo? Vamos lutar por uma educação realmente pública? A última assembléia do SEPE-Lagos mostrou um caminho. Precisa-se de braços e pernas para se continuar a caminhada.
O SEPE somos nós, nossa luta, nossa voz.


 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Estudantes protestam na inauguração do bandejão da UERJ



Na manhã desta segunda-feira 12/09/11, estudantes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) realizaram um protesto durante a inauguração do restaurante universitário. Os alunos terão de desembolsar 3 reais se quiserem comer no bandejão. Esperava-se a presença do governador Sérgio Cabral, que não compareceu. Uma barreira composta por seguranças da UERJ impediu o acesso dos universitários às dependências do restaurante, cuja entrada era permitida apenas a convidados. O reitor Ricardo Vieiralves chegou ao evento debaixo de vaias dos manifestantes. Vieiralves é acusado por estudantes e servidores de promover a privatização de setores da UERJ. Ao ser indagado o motivo pelo qual os estudantes estavam sendo barrados, o chefe da segurança da UERJ, de nome Cleber, reagiu tentando impedir a gravação de imagens, o que acirrou ainda mais os ânimos. Os manifestantes então forçaram a entrada no bandejão e foram contidos pelos agentes, que protagonizaram cenas de verdadeiro pugilismo.

domingo, 11 de setembro de 2011

A matemática macabra do 11 de setembro

A resposta dos EUA ao ataque contra o World Trade Center engendrou duas novas guerras e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, algumas centenas de milhares de pessoas foram mortas. Para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Mas essa história não se resume a mortes. A invasão do Iraque rendeu bilhões de dólares a empresas norteamericanas. Essa matemática macabra aparece também no 11 de setembro de 1973. O golpe de Pinochet provocou 40 mil vítimas e gordos lucros para os amigos do ditador e para ele próprio: US$ 27 milhões, só em contas secretas.

O mundo se tornou um lugar mais seguro, dez anos depois dos atentados de 11 de setembro e da “guerra ao terror” promovida pelos Estados Unidos para se vingar do ataque? A resposta de Washington ao ataque contra o World Trade Center e o Pentágono engendrou duas novas guerras – no Iraque e no Afeganistão – e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, mais de 900 mil pessoas já teriam perdido suas vidas até hoje. Os números são do site Unknown News, que fornece uma estatística detalhada do número de mortos nas guerras nos dois países, distinguindo vítimas civis de militares. A organização Iraq Body Count, que usa uma metodologia diferente, tem uma estatística mais conservadora em relação ao Iraque: 111.937 civis mortos somente no Iraque.

Seja como for, a matemática da vingança é assustadora: para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Em qualquer um dos casos, a reação aos atentados supera de longe a prática adotada pelo exército nazista nos territórios ocupados durante a Segunda Guerra Mundial: executar dez civis para cada soldado alemão morto. Na madrugada do dia 2 de maio, quando anunciou oficialmente que Osama Bin Laden tinha sido morto, no Paquistão, por um comando especial dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama afirmou que a justiça tinha sido feita. O conceito de justiça aplicado aqui torna a Lei do Talião um instrumento conservadora. As palavras do presidente Obama foram as seguintes:

"Foi feita justiça. Nesta noite, tenho condições de dizer aos americanos e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda e terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças."

O conceito de justiça usado por Obama autoriza, portanto, a que iraquianos e afegãos lancem ataques contra os responsáveis pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças. E provoquem outras milhares de mortes. E assim por diante até que não haja mais ninguém para ser morto. A superação da Lei do Talião, cabe lembrar, foi considerada um avanço civilizatório justamente por colocar um fim neste ciclo perpétuo de morte e vingança. A ideia é que a justiça tem que ser um pouco mais do que isso.

Nem tudo é dor e sofrimento



Mas a história dos dez anos do 11 de setembro não se resume a mortes, dores e sofrimentos. Há a história dos lucros também. Gordos lucros. Uma ótima crônica dessa história é o documentário “Iraque à venda. Os lucros da guerra”, de Robert Greenwald (2006), que mostra como a invasão do Iraque deu lugar à guerra mais privatizada da história: serviços de alimentação, escritório, lavanderia, transporte, segurança privada, engenharia, construção, logística, treinamento policial, vigilância aérea...a lista é longa. O segundo maior contingente de soldados, após as tropas do exército dos EUA, foi formado por 20 mil militares privados. Greenwald baseia-se nas investigações realizadas pelo deputado Henry Waxman que dirigiu uma Comissão de Investigação sobre o gasto público no Iraque.

Parte dessa história é bem conhecida. A Halliburton, ligada ao então vice-presidente Dick Cheney, recebeu cerca de US$ 13,6 bilhões para “trabalhos de reconstrução e apoio às tropas. A Parsons ganhou US$ 5,3 bilhões em sérvios de engenharia e construção. A Dyn Corp. faturou US$ 1,9 bilhões com o treinamento de policias. A Blackwater abocanhou US$ 21 milhões, somente com o serviço de segurança privada do então “pró-Cônsul” dos EUA no Iraque, Paul Bremer. Essa lista também é extensa e os números reais envolvidos nestes negócios até hoje não são bem conhecidos. A indústria da “reconstrução” do Iraque foi alimentada com muito sangue, de várias nacionalidades. Os soldados norte-americanos entraram com sua quota. Até 1° de setembro deste ano, o número de vítimas fatais entre os militares dos EUA é quase o dobro do de vítimas do 11 de setembro: 4.474. Somando os soldados mortos no Afeganistão, esse número chega a 6.200.

A matemática macabra envolvendo o 11 de setembro e os Estados Unidos manifesta-se mais uma vez quando voltamos a 1973, quando Washington apoiou ativamente o golpe militar que derrubou e assassinou o presidente do Chile, Salvador Allende. Em agosto deste ano, o governo chileno anunciou uma nova estatística de vítimas da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990): entre vítimas de tortura, desaparecidos e mortos, 40 mil pessoas, 14 vezes mais do que o número de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Relembrando as palavras do presidente Obama e seu peculiar conceito de justiça, os chilenos estariam autorizados a caçar e matar os responsáveis pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças.

Assim como no Iraque, nem tudo foi morte, dor e sofrimento na ditadura chilena. Com a chancela da Casa Branca e a inspiração do economista Milton Friedman e seus Chicago Boy’s, Pinochet garantiu gordos lucros para seus aliados e para si mesmo também. Investigadores internacionais revelaram, em 2004, que Pinochet movimentava, desde 1994, contas secretas em bancos do exterior no valor de até US$ 27 milhões. Segundo um relatório de uma comissão do Senado dos EUA, divulgado em 2005, Pinochet manteve elos profundos com organismos financeiros norte-americanos, como o Riggs Bank, uma instituição de Washington, além de outras oito que operavam nos EUA e em outros países. Segundo o mesmo relatório, o Riggs Bank e o Citigroup mantiveram laços com o ditador chileno durante duas décadas pelo menos. Pinochet, amigos e familiares mantiveram pelo menos US$ 9 milhões em contas secretas nestes bancos.

Em 2006, o general Manuel Contreras, que chefiou a Dina, polícia secreta chilena, durante a ditadura, acusou Pinochet e o filho deste, Marco Antonio, de envolvimento na produção clandestina de armas químicas e biológicas e no tráfico de cocaína. Segundo Contreras, boa parte da fortuna de Pinochet veio daí.

Liberdade, Justiça, Segurança: essas foram algumas das principais palavras que justificaram essas políticas. O modelo imposto por Pinochet no Chile era apontado como modelo para a América Latina. Os Estados Unidos seguem se apresentando como guardiões da liberdade e da democracia. E pessoas seguem sendo mortas diariamente no Iraque e no Afeganistão para saciar uma sede que há muito tempo deixou de ser de vingança.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

Primavera nos dentes em Teresina - "o povo se uniu e a tarifa reduziu"


















Teresina abre o primeiro dia mais quente de toda temporada com o asfalto quente sob os pés dos estudantes, que anunciavam aos filhos do sol do equador, que o calor logo logo se reverberaria em vitória. Depois de cinco dias de luta, os manifestantes finalmente puderam gritar para a população "o povo se uniu e a tarifa reduziu". O prefeito suspendeu o aumento abusivo de 2,10 e manteve o valor de 1,90 por 30 dias. Isso foi sem dúvidas um avanço e uma recompensa para aqueles que passaram a semana lutando. Mas sabemos que isso não é o suficiente. Só nos mostra que devemos ficar cada vez mais atentos e fortes para conseguir finalmente uma tarifa justa e um transporte de qualidade.
 
As manifestações tomavam conta do coração da cidade - a Av. Frei Serafim foi espaço de muitas lutas. Em muitos momentos a juventude ocupava focos diferenciados e estratégicos. Inesgotáveis manifestações duravam o dia todo. Foi assim todos os dias, segunda, terça, quarta, quinta e sexta: a juventude estava disposta a fazer barricada contra a exploração descarada da máfia Prefeitura/SETUT. Ao amanhecer, toda a burguesia já podia sentir a indignação da juventude nos bolsos; as barricadas impediam que carros e ônibus transitassem, fazendo com que os patrões decretassem folga forçada aos trabalhadores.
Para a mídia hegemônica a criminalização a pauta do dia era: tratar este movimento legítimo como uma baderna de jovens vândalos, arruaceiros e vagabundos. Sempre culpando os manifestantes pelo caos instaurado na cidade, acusando-os de cercear o direito de ir e vir. Quando estes não faziam mais do que reagir ao abuso de poder cometido pela grande violadora de direitos do cidadão, a prefeitura, que com o aumento excessivo impedia o povo de exercer seu direito de ocupar os espaços urbanos com dignidade.
Muito foi dito dos "excessos" cometidos por parte da juventude. A burguesia clamava apavorada pelo encerramento deste clima fervoroso de "terror". Mas nada poderia conter o sol escaldante e o calor nas mentes e corações inquietos sedentos de água e mais ainda de justiça. Estranhamente não fizeram uma súplica ao prefeito que tinha o poder de impedir que os acontecimentos tomassem as proporções alcançadas. Ele sim é o grande terrorista que foi omisso e permitiu a radicalização. Afinal, situações extremas pedem medidas e extremas. E essas foram tomadas não por rebeldia juvenil, sadismo, por fúria impensada ou distúrbio hormonal, mas sim por necessidade.
Mas o povo oprimido que cansou de ser espremido pelas engrenagens de um sistema sórdido e falido não se deixou enganar e nas ruas apoiou a luta dos estudantes. A organização contra o aumento da passagem já vem se fortalecendo há três meses em Teresina. Conseguimos congelar o preço da passagem por pelo menos um mês, e agora conseguimos baixar o preço da tarifa. O que parecia impossível transbordou em realidade concreta na Praça da Liberdade, donde culminou a grande comemoração. Como disse Pablo Neruda "É proibido não transformar sonhos em realidade", mesmo que o spray de pimenta arda em nossos olhos, mesmo que a cavalaria nos imponha medo, mesmo que a cada quarteirão tenham homens do estado armados até os dentes". Independente e livre o povo teresinense mostrou que está preparado para enfrentar essa e todas as lutas contra opressão e em prol da cidadania plena.
Sara Fontenelle e Vicente Leite para o Centro de Mídia Independente

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Estudantes de Teresina completam 4 dias de manifestações e incendeiam ônibus

Os estudantes de Teresina chegam ao seu quarto dia de manifestações contra o péssimo serviço do transporte público da capital e radicalizam suas ações incendiando e quebrando vários ônibus.
Estudantes de Teresina, indignados com a péssima qualidade do transporte público municipal e com o recente aumento no preço das passagens de ônibus coletivo na capital, estão há 4 dias ocupando as ruas da cidade com seus gritos de guerra contra a máfia institucionalizada do Sindicato de Transportes Urbanos de Teresina (SETUT). Entenda melhor sobre essa máfia aqui neste link: http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/08/496354.shtml Cansados com a falta de reposta por parte do SETUT e da prefeitura, que possuem uma relação promíscua e corrupta há quase 25 anos, os estudantes saíram em marcha pelas ruas do centro da cidade e radicalizaram suas ações: atearam fogo em, pelo menos, dois ônibus e destruíram com paus e pedras cerca de outros 15. Esta reação se deve ao grande descaso do poder público na resolução das questões que envolvem a melhoria do transporte na capital. O prefeito se reuniu com uma comissão de estudantes hoje e reafirmou que não vai revogar o decreto que aumenta o preço das passagens. A fúria dos manifestantes também está relacionada à últimas declarações feitas na imprensa pelo presidente do SETUT. Ele declarou que ao invés de baixar o preço da passagem, aumentará dos atuais R$ 2,10 para R$ 2,20. E que "Se a pessoa não gosta do supermercado você deixa de comprar no supermercado. Se ele não está gostando do sistema de ônibus que ele procure outro meio de transporte e não ficar depredando o patrimônio. Qualquer manifestação é legítima. Agora não pode é virar vandalismo"
Como represália às ações dos estudantes, o SETUT determinou a suspensão do circulamento das linhas de ônibus pela capital e o bloqueio dos cartões de passe estudantil. Mas nem a desmesurada violência policial e nem as ameaças feitas pelo sindicato aos manifestantes inibiram sua luta. A ideia é de que se a prefeitura/SETUT não resolverem logo a situação do transporte coletivo, a capital vai continuar parada e as manifestações vão continuar.
A imprensa local segue atacando o movimento o quanto pode. Na tentativa de desqualificá-lo está relacionando-o aos partidos políticos da capital, como um movimento de cunho político-partidária que estaria apenas querendo enfraquecer a imagem do prefeito perante a população. Mas o movimento segue livre de lideranças oportunistas e covardes. Os partidos e entidades estão participando dele, mas apenas como meros coadjuvantes. As manifestações têm se dado de forma espontânea e não estão sendo encabeçadas por bandeiras partidárias ou coisa do tipo. A imprensa também, como era de se esperar, está criminalizando as ações dos manifestantes, taxando-as de vandalismos, atentados terroristas, e com isso tentando jogar a população contra os manifestantes.
Portanto, a melhor cobertura das manifestações está sendo feita via internet, principalmente pelo twitter, com manifestantes postando direto do ato. Estamos usando a hashtag #contraoaumento e nos articulando massivamente pela grande rede.
Teresina segue na luta contra o aumento e contra a corrupção!
Imagens retiradas dos portais Cidade Verde e 180 graus.