Vanderlei da Cunha, morador da Favela de Acari, conhecido poeta e ativista social e cultural, e defensor dos direitos humanos, anunciou no dia 22/10 seu desligamento unilateral do Programa Nacional de Defesa dos Defensores de Direitos Humanos, no qual havia sido incluído após seguidas ameaças que recebeu de policiais militares, devido às suas denúncias de violações e arbitrariedades cometidas por agentes do Estado na comunidade.
Tal como Josilmar Macário dos Santos, incluído na mesma época no Programa, após ter sofrido atentado (após várias ameaças de policiais militares, por sua luta por justiça no caso de seu irmão, Josenildo dos Santos, executado por PMs em abril de 2009), a inclusão de Vanderlei no Programa foi algo puramente formal, que não alterou em nada sua situação de vulnerabilidade. Tanto Vanderlei, como Macário e a Rede contra a Violência formularam uma série de reivindicações aos órgãos responsáveis pelo Programa, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (federal) e a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (estadual), sempre no sentido de por à disposição dos defensores ameaçados recursos que eles pudessem gerir autonomamente no sentido de sua auto-proteção.
Praticamente todas as reivindicações feitas foram rechaçadas pelos citados órgãos, que limitam as ofertas de apoio a atendimento psicológico e escolta policial, a ser realizada por policiais militares ou civis do Rio de Janeiro! Considerando uma afronta uma proposta como essa, para militantes ameaçados precisamente por policiais do estado, os defensores não aceitaram, e continuaram cobrando um suporte real. A Rede denunciou o descaso, numa nota pública em julho, que causou irritação na SEDH, mas a obrigou a se reunir com os defensores ameaçados. Embora tenham sido feitas promessas de medidas concretas na ocasião, na prática nada se alterou desde então. Na verdade, a situação dos ameaçados até se agravou. Macário, por exemplo, que é taxista, não pode trabalhar nas rotas e horários que estava habituado, e tem que tomar todo cuidado para não se aproximar de "pontos" dominados por máfias de taxistas aliados a policiais.
A SEDH e a SASDH ficam culpando uma a outra pela morosidade, apresentam diversas desculpas burocráticas, e na prática nada avança. Uma outra militante ameaçada, Márcia Honorato, cujo prazo de inclusão no programa "expirou" recentemente, embora a situação de ameaça não tenha se alterado, tem dependido do "favor"de uma ONG para manter a moradia que obteve para sair do município onde residia anteriormente. Também para seu caso não há perspectiva de solução.
O Programa Nacional de Defesa dos Defensores de Direitos Humanos é uma reivindicação antiga dos militantes sociais, vítimas da violência e organizações defensoras de direitos humanos, mas sua implementação no Rio de Janeiro, estado onde há diversos casos de defensores ameaçados, tem sido protelada há anos. Em 2009, graças em boa parte aos esforços da Justiça Global, que faz parte da coordenação nacional do Programa, começou a ser feita uma discussão com organizações da sociedade no Rio para buscar sua implementação no estado. A maior parte das propostas das organizações sociais foi desconsiderada, e o programa ainda está em vias de implantação, sem as características e as garantias pleiteadas pelos militantes, que vivem na pele as ameaças e atentados. Os três casos citados, e outros no estado, estão sendo administrados como "casos excepcionais", mas com todas as falhas e irresponsabilidades citadas.
Desde as discussões em 2009, chamamos a atenção para o fato de que um programa de proteção para defensores de DDHH, ou seja, para militantes, não podia ser implementado tendo como modelo o Provita, programa de proteção de testemunhas. Enquanto o Provita objetiva "tirar de circulação" a testemunha e isolá-la de contatos sociais, a proteção a militantes deveria, ao contrário, potencializar a continuidade e a ampliação da atividade social do defensor.
Não parece ser essa a compreensão da SEDH ou da SASDH, que insistem em propor "medidas de proteção" que tratam o militante como incapaz e limitam sua luta. O mais escandaloso é a proposta de proteção policial por membros das forças de segurança estaduais, as mesmas responsáveis pelas violações que motivaram a luta dos defensores de DDHH, e cujos membros também estão comprovadamente envolvidos nas ameaças.
A polícia do Rio de janeiro (e essa é uma situação que vale praticamente para todo o país), é uma instituição profundamente contaminada pela presença de grupos mafiosos, grupos paramilitares, grupos de extermínio e outros. Não passa semana sem que se noticie um grande escândalo ou violação grave de direitos envolvendo agentes do Estado. Até na guarda pessoal do governador trabalharam (e talvez ainda trabalhem) policiais participantes de grupos paramilitares. A implementação das UPPs, ao contrário do que vem sido noticiado pela imprensa e propagandeado pelo governo, não tem alterado este quadro, e temos várias informações de envolvimento de policiais das UPPs em abusos, extorsões e receptação de subornos de criminosos. Alguns desses casos já foram anunciados, mas a maioria ainda não, porque a presença permanente da polícia nas comunidades intimida ainda mais vítimas de violações e testemunhas, que poderiam sustentar as denúncias.
A Polícia Federal, por sua vez, lavou suas mãos, em parecer que recebemos há algumas semanas, onde se declara incapaz de assegurar segurança a Macário e outros defensores por “falta de previsão legal”.
Por todas essas razões, não só compreendemos e nos solidarizamos totalmente com a atitude de Deley, como pedimos que seja dada ampla divulgação à irresponsabilidade, à falsidade e ao descaso dos órgãos responsáveis pelo Programa, a SEDH e a SASDH, e chamamos as organizações defensoras dos direitos humanos, os movimentos sociais e todos que se indignam diante da injustiça e da opressão, para que lutem e pressionem pela implementação de um verdadeiro programa de defesa e suporte a militantes ameaçados. Ameaçados, é preciso que se repita, por lutarem por direitos que o Estado brasileiro teoricamente (e, infelizmente, cada vez mais só teoricamente) aceita e defende. Também conclamamos as organizações internacionais que assumam esse papel de proteger nossos lutadores, uma vez que o Estado brasileiro não cumpre seu papel.
"Com a "descoberta" dum falso coronel na Secretaria de Segurança, eu, como defensor de direito humanos, tenho todo direito de colocar, pelo menos, na minha comunidade, toda essa secretarias sob suspeita e, não só ela, também a de ação social e e de direitos humanos. Saber que esse falso coronel tinha acesso a informações sigilosas é motivo pra deixar todas as vitimas de violência que entraram na justiça pra por pra frente seus casos e nós defensores de direitos humanos, cheios de neurose, senão em pânico. ´Há informações que ele atuou no serviço de inteligência e tinha informações privilegiadas, como os inquéritos da corregedoria e os processos e casos de proteção a testemunhas e defensores de direitos humanos.
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