sábado, 15 de maio de 2010

Rio e São Paulo: capitais da barbárie contra os moradores de rua

Retirado da página do MEPR - Movimento Estudantil Popular Revolucionário.






A Exclusão da Exclusão:

A frase que diz ?socialismo ou barbárie? ganhou já um status de quase lugar-comum. Entretanto, olhando atentamente o que acontece atualmente nas ruas de Rio de Janeiro e São Paulo, as duas cidades mais ricas do País, vemo-nos forçados a refletir sobre a mesma.

As estatísticas sobre população de rua são desencontradas. Propositalmente, claro. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, divulgados em 2008, o Brasil teria uma população de rua estimada em 31.922 pessoas. Só que esses dados são simplesmente irreais: não apenas o governo excluiu do recenseamento menores de 18 anos como não incluiu capitais importantes como São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.

Não é difícil constatar os limites muito estreitos de tal ?pesquisa?, e nem os interesses em se maquiar tal brutal realidade. Aqueles que nada têm a receber da respeitável ?sociedade moderna? são excluídos, inclusive, das estatísticas.

A pesquisa do governo federal apontou o Rio de Janeiro como a cidade com maior quantidade de moradores de rua: 4584 mil pessoas. Em São Paulo o último estudo publicado sobre o tema data de 2003, quando foi apontada uma população de rua de 10.399 pessoas. A ?cidade olímpica? e o centro econômico-financeiro do País, aonde se concentram as mais vultosas fortunas e ?luxo? em bens de serviço e artigos importados (para a ínfima minoria que pode compra-los, claro), concentram também o setor mais miserável da população, aquele que nem mesmo nas periferias mais distantes e precárias pode morar. A lei geral da acumulação capitalista descoberta por Marx, poderosa chaga lançada na face dos exploradores, que tentam apresentar o seu mundo como o melhor e último dos mundos, impõe-se com toda a sua contundência, como podemos ver.
Chacinas em São Paulo:

Somente nesse ano de 2010, 25 pessoas foram chacinadas na Grande São Paulo. Desse total, boa ou a maior parte eram moradores de rua. Na madrugada de terça-feira última, dia 11 de maio, 6 moradores de rua foram assassinados e um ficou ferido em uma passagem sob a Rodovia Fernão Dias, quase no limite com Guarulhos.

Isso ocorre num momento em que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (que já teve oportunidade de demonstrar, em várias ocasiões, seu ódio infinito ao povo), radicaliza a política de criminalização dessas pessoas. Como divulga matéria do jornal A Nova Democracia, de maio deste ano, no ano passado o prefeito fechou três albergues na capital, o que significa 1154 vagas a menos. E mais: esse prefeito encarregou os agentes da Guarda Civil Metropolitana, cães de guarda do patrimônio da grande burguesia quatrocentona de São Paulo, de expulsa-los de locais ?impróprios para a permanência saudável das pessoas?. Aqui nem se esconde que se trata de higienização pura e simples...


Rio de Janeiro: a meta é acabar com os pobres, não com a pobreza...

Mas é no Rio de Janeiro, que tem sido verdadeiro laboratório das políticas fascistas para o resto do país, aonde esse discurso de higienização social e limpeza étnica ganha contornos cada vez mais perigosos, assumindo ora formas de violência escancarada e aberta, ora as roupagens mais hipócritas e elaboradas.

As táticas que visam ?limpar? a cidade para as Olimpíadas vão desde ocupações militares e remoções nas favelas até incêndios ?misteriosos?, como o que varreu do mapa o centro de comércio popular da Central do Brasil, causando perda de 4 mil empregos. Quando controlado o incêndio, a Guarda Municipal formou um cordão de isolamento no local visando impedir que trabalhadores recuperassem o que restou de suas mercadorias e muitos desses foram agredidos ao tentar resistir a tamanho e tão descarado absurdo! Fica a pergunta: acidente, ou uma nova modalidade da malfadada operação ?Choque de Ordem? da repressão?

Quanto à população de rua, também, é incrível até que ponto se tem chegado.

No princípio do ano jornais cariocas estampavam, em suas páginas, fotos de pedras colocadas sob viadutos para impedir a permanência de mendigos. Sim, é isso mesmo. Não apenas essas pessoas não têm emprego, habitação, são negadas em suas mais básicas necessidades materiais e morais enquanto ser humano como, ainda, têm roubado o quinhão mínimo de espaço que ocupam, restando-lhes agora apenas o relento e a exposição não apenas às chuvas mas todos os tipos de covardia contra eles cometidos. É claro que isso não ficaria sem resposta, e agora já são divulgadas fotos de moradores de rua que, munidos de tábuas, transformam as pedras em camas. É o verdadeiro contra-espaço das massas.

Agora, em conjunto com associações de moradores da zona sul da cidade (área nobre da cidade, aquela que é exibida nas novelas), agentes da Prefeitura de Eduardo Paes (playboyzinho que foi eleito defendendo a união com os governos estadual e federal) e a Rede Globo ?que tem dedicado enorme espaço ao seu jornal regional para o tema- defendem a proibição da distribuição de sopas nas ruas da cidade.

A medida, por si só, já é repugnante. Mas o argumento de um tal sr. Rodrigo Bethlem, mentor do projeto, é impressionante a ponto de não ter adjetivos que o qualifiquem. Disse esse senhor, muito bem nutrido e abrigado, naturalmente, se referindo aos moradores de rua: ?Muitos se recusam a seguir para os abrigos porque não querem perder a hora do sopão?. Impressionante, não? Milhares de pessoas morariam nas ruas, agora, sujeitas a todo tipo de violências, discriminação, risco permanente de morte e todo tipo de tragédia social não porque não encontram um emprego, ou porque migram de outras miseráveis regiões do país por não ter acesso à terra, mas porque optam por receber o sopão! Que comodidade, não? Estaria disposto esse fascista, também, a trocar seu empreguinho na burocracia estatal e sua casa por um prato de sopa, na rua? É realmente aviltante mas esse tipo de ?argumento? é apresentado com a maior naturalidade pelos monopólios da imprensa, em sua loucura higienista e racista.

As operações choque de ordem da prefeitura tiram o emprego de milhares de pessoas, essa prefeitura e a polícia militar do governo estadual ocupam e demolem casas em várias favelas da capital fluminense e, se uma pessoa vê-se jogada à rua, nem mesmo na rua poderá ficar, estando condenada a ficar sob chuva e a morrer de fome. Essa é a face monstruosa desse capitalismo burocrático que temos em nosso país. Isso é o que se chama pretender acabar com os pobres, deixando intacta a pobreza.


Derrotar a Escalada Fascista!

Não há dúvida que tal tipo de medida mereceria, em outros momentos, repúdio geral, porque é realmente estapafúrdia e qualquer cidadão que nunca tenha participado de alguma mobilização na sua vida é capaz de vê-lo. O puro e simples fato de existirem milhares de pessoas morando em tais condições nas cidades brasileiras, fato inteiramente impossível de ser visto em qualquer país socialista que houve no mundo, fato que entre nós tornou-se inteiramente ?natural? (não o é, obviamente) e, além, de tamanha bestialidade ser usada contra os mesmos, retirando o mínimo de dignidade que essas pessoas conseguem criar no seu cotidiano, esse fato é emblemático do momento em que vivemos. Do uso feito do terror pelas classes dominantes para justificar sua estratégia de repressão, da escalada em direção ao Estado policial, em direção ao fascismo.

Devemos entender que somente a mobilização popular, a Rebelião do povo pobre, na cidade e no campo, pode por termo a essa ordem de coisas. Saídas assistencialistas não resolvem o problema da miséria, porque o capitalismo, ao mesmo tempo que produz riqueza, reproduz permanentemente essa miséria. O caminho sim é a Revolução, única via capaz de construir para as gerações futuras uma sociedade na qual notícias como essa sejam não apenas absurdas, como percam mesmo o sentido da sua existência.

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