Tem dias que apenas gostaria ficar na minha, sem perceber ou sentir o que acontece ao seu redor, porém percebi que é uma missão inglória rsrs. Ainda mais quando é tocado a questão das relações étnico-raciais em nosso querido País racista.
Assistindo uma fala sobre o tema etnia em uma mesa redonda no qual fiz parte, que aliás foi uma ótima iniciativa do Colégio Municipal Rui Barbosa, um vídeo de uma criança branca se pintado de barro, dizendo que queria ficar negro. Alguns risos e percepções carinhosas diante do ato do menininho veio à tona todo um processo de discussão da caricaturização no negro dentro do espaços de legitimação de identidade.
Lembro do filme de Spike Lee chamado “Bamboozled – Hora do Show” onde se é discutido o papel do negro na TV estadunidense a partir de um programa em que os negros se pintavam de carvão em uma imagem caricata para provocação do riso e escárnio em pleno século XXI, sendo que essa prática era comum no showbizz americano na década de 30 e 40 em que os pretos e brancos se pintavam de carvão para atuações.
O que talvez o filme venha mostrar é quanto o imaginário racista transforma o oprimido em algo espetaculoso, digno de imitação, mas uma imitação que beira o ridículo, justamente para afirmarção dos lugares sociais hierarquizados.
Características como beiços grandes, cor da pele, quadris largos e habilidade corporal são supertismadas, caracterizando uma verdadeira metonímia, a parte pelo todo. As características sobrepondo o que poderia ser um ser humano pleno, logo indignido do crédito devido.
Quando assisti o vídeo do garoto querendo ser negro usando barro e com uma simples ducha ele poderia deixar de ser negro, me veio a mente os relatos de pessoas usando água sanitária para tentar embranquecer. A negritude associada como sujeira em que o branco se apropria, usa a sua revelia e quando enjoa, simplesmente toma um banho.
E o negro que faz uma esforço para tentar embraquecer sua pele usando produtos químicos de limpeza? O máximo que ele vai conseguir é ter sua pele avariada, pois o negro que deseja virar branco, o destino é ser ferido, maculado, extirpado e condicionado a aceitar que sua cor realmente é tão suja que nenhum processo adianta e isso será seu eterno calvário.
Reflexões feitas, a noite transito pelo Portinho Boêmio e soube que uma banda de reggae iria tocar. Curiosidade a parte, pela som em si, espero o espetáculo acontecer e ein que me deparo com o vocalista branco pintado de preto e cantando Bob Marley. He, caricaturização, apropriação, depreciação... As reações naturalizadas das pessoas me espantava, pois estava na sua frente um ato explícito de racismo. Explícito.
Talvez embriagados por bebidas, psicótropicos ou até mesmo pelo som da banda, talvez isso tenha passado batido, mas como eu sou uma pessoa chata, pelo para mim gerou um incômodo tremendo e pude perceber nitidamente como as pseudo-elites cabofrienses enxergam o negro e cultura negra em si.
Exagerado eu? Não quero ser caricatura, não quero ser caricatura e não tomarei um banho para apagar minha negritude!!
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