Os imigrantes haitianos que buscam refúgio em massa no Acre estão
sendo vítimas de extorsão, roubo, estupros e mortes quando percorrem
territórios do Peru e da Bolívia.
Relatório enviado ao ouvidor Carlos Alberto de Souza e Silva Júnior,
da Secretaria Especial de Políticas da Promoção da Igualdade Racial
(SEPPIR), denuncia que as mulheres haitianas são separadas dos homens e
bolinadas.
De acordo com o relatório, assinado por Lúcia Maria Ribeiro de Lima,
Coordenadora Geral do Comitê Gestor de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, ligado ao governo do Acre e à prefeitura de Rio
Branco, a capital do Estado, algumas mulheres foram vítimas de tentativa
de estupro e outras foram estupradas por taxistas peruanos e
bolivianos.
O documento assinala que nas últimas duas semanas se intensificaram
os relatos de haitianos assassinados no trajeto até o Brasil.
Os haitianos que não possuem dinheiro ou bem de valor são amarrados,
surrados e colocados nas margens das estradas de barro e com pouca
movimentação.
Há relatos de corpos de negros, amarrados na beira da estrada. Na
semana passada, foi relatado a existência de um grupo de 10 haitianos
amarrados, abandonados na estrada, incluindo mortos entre eles.
- Isso tudo ocorre no caminho entre Peru e Bolívia, mais precisamente
numa cidade chamada Soberania (Bolívia). Tais violências são praticadas
por policiais da Força Nacional do Peru e da Bolívia e por taxistas que
transportam os haitianos. Não há relato de envolvimento de brasileiros -
assinala o documento.
O relatório enviado ao ouvidor da SEPPIR informa que "cerca de 3 mil haitianos já passaram pelo Acre e muito mais virá".
- Ocorre que a fronteira brasileira está fechada e o Brasil exige que
os haitianos peçam o visto antes de vir para cá. Por conta desta
situação, os haitianos estão sendo vítimas de extorsão e roubo.
Segundo o relatório, objetos de valor (dinheiro, câmeras
fotográficas, computador, perfume, sabonete etc ) são roubados, mediante
violência. Os roubos são praticados por Policiais da Guarda Nacional do
Peru e da Bolívia e também por taxistas.
- Já nos reunimos com representantes (governo e movimento social) do
Peru e da Bolívia. Mas pouco foi feito até o presente, principalmente no
Peru e na Bolívia. Não tem como o governo brasileiro atuar pois estas
atrocidades ocorrem em solo peruano e boliviano - acrescenta o
documento.
Apelo
Veja o trecho final do relatório do Comitê Gestor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Acre:
"Mediante o exposto, solicitamos o apoio da SEPPIR, através do
Gabinete da Ministra, da Ouvidoria e da Assessoria de Relações
Internacionais no sentido de nos ajudar a:
a) Encaminhar estes relatos aos governos do Peru e da Bolívia,
pedindo providências no sentido de fazer cessar todas as violências
cometidas contra os haitianos no percurso até o Brasil e punição aos
autores destas violências;
b) Que o governo brasileiro reabra as fronteiras a fim de permitir a
entrada dos haitianos, visando com isso fazer com que eles evitem o
caminho que os estão levando para a extorsão, roubo, estupro e a morte;
c) Que aumente o efetivo da Polícia Federal em Epitaciolândia, no Acre, a fim de agilizar a emissão da documentação;
d) Que o governo federal envie recurso financeiro para o governo do
Acre com vistas a garantir melhor atendimento aos haitianos que já estão
em solo brasileiro, custeando as despesas com hospedagem, alimentação e
passagem para outros estados a fim de buscar trabalho;
e) Que o governo federal faça levantamento nas empresas,
principalmente nas que estão construindo as obras para a Copa de 2014,
para que possam contratar mão- de-obra haitiana;
f) Que o Ouvidor da SEPPIR venha ao Acre, especialmente à Brasiléia,
conhecer a situação dos haitianos para ajudar na sensibilização do
governo federal quanto a esta questão.
Por fim, cumpre enfatizar que esta é uma questão humanitária. Ajudar,
de todas as formas, o povo haitiano é responsabilidade de todos nós. É
triste ver centenas de homens, algumas mulheres e crianças perambulando
pelas ruas e praças de Brasiléia e Epitaciolândia, no sol e na chuva, à
espera de documentos. O Brasil é a esperança para eles.
O Acre é um estado pequeno e pobre, que está custeando sozinho a
hospedagem e alimentação dos haitianos. Até agora, o governo do estado
investiu mais de R$ 1 milhão com alimentos, hospedagem e passagem para
os que não tem como ir a outros locais.
É preciso que todos: governo federal e sociedade civil (inclusive no
plano nacional) se mobilizem em torno desta causa. A situação dos
haitianos na tríplice fronteira Peru, Bolívia e Brasil é gravíssima.
Por favor, nos ajude, vamos fazer uma grande mobilização nacional
para ajudar os haitianos e denunciar e acabar com a extorsão, roubo,
estupro e assassinato de haitianos na tríplice fronteira."
Foto: Lou Gold/Divulgação
Fonte: Blog do Amazonas
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