Sobre vandalismo no Axé Opo Afonjá
e o Genocídio praticado em Salvador
“Desenvolver o Estado penal para responder às desordens suscitadas pela desregulamentação da economia, pela dessocialização do trabalho assalariado e pela pauperização relativa e absoluta de amplos contingentes do proletariado urbano, aumentando os meios, a amplitude e a intensidade da intervenção do aparelho policial e judiciário” Loïc Wacqante, As Prisões da Miséria , ZAHAR
O Correio da Bahia em sua edição de 06 de janeiro de 2010, apresentou em sua manchete de capa uma matéria que tratava de uma forte violação ao espaço sagrado do Ilê Axé Opo Afonjá , no São Gonçalo do Retiro.
O Afonjá foi Fundado em 1910 por D. Eugenia Ana dos Santos ( Mãe Aninha) notável sacerdotisa e desde 1976 é comandado com esmero e dignidade pela Honorável Yalorixá Mãe Stella de Oxossi .
As ancestrais do Afonjá, Gantois e Casa Branca são três Jovens, como se conta, pela “roça” da Federação, que vieram escravizadas para o Brasil, chegaram algemadas, foram, encarceradas e tiveram como primeiro contato com esse território hostil os rigores da lei e o poder de policia de um Estado escravista. Em sua bagagem elas trouxeram a força dos orixás e a certeza da luta contra muros, cercas e mentiras. Venceram as tias fundadoras.
A manchete mencionada do Correio da Bahia, fala de depredação do Terreiro, Trafico de drogas, ameaças aos moradores, invasão de templos sagrados, furtos de objetos litúrgicos etc. causa indignação a qualquer pessoa , independente de seu pertencimento racial ou religioso
Muitos intelectuais e sacerdotisas se pronunciam nessa matéria do jornal e, em listas da internet pipocam opiniões indignadas todos em uníssono apresentam sua indignação com o drama vivido pelo Axé Opo Afonjá.
Para Ilustrar o jornal apresentou um Box em que registrava a expulsão de outro terreiro na comunidade de Babilônia, no bairro de Tancredo Neves, segundo a reportagem a ordem da destruição foi dada por supostos traficantes
Mas cá pra nós!!!
Essa indignação tardia me causou indignação diante de tanta hipocrisia. Todos os dias terreiros são invadidos por policias, filhos de Santo são mortos pela repressão policial em nossas comunidades, sem direitos aos rituais mortuários exigidos para sua passagem ao outro mundo, pequenos terreiros em bairros populares são vigiados como antro de bandidos, um, o Oya Onipó Neto, chegou a ser demolido pela prefeitura municipal de Salvador e essa turma ficou calada, o líder do CEN precisou fazer greve de fome para chamar atenção do Brasil e essa turma escondida atrás de distinção social, agora vem a publico pedir mais repressão, mais policia nas comunidades e mais muros e cercas e execuções posto que essa tem sido a pratica da Secretaria de Segurança Publica da Bahia nos conflitos em nossas comunidades negras ....eu sei moro lá
Vejamos com muita calma, combinemos aqui
O Axé Opo Afonjá é um Oasis no deserto de desgraça das comunidades que o cercam, para bem além da Baixinha de Santo Antonio o inferno parece existir como Dante Alighieri descreveu. Se não acredita no inferno passe pelas escadarias do Engenho Velho de Brotas pela madrugada, terá sorte se não encontrar demônios de uniforme, armas e distintivos do governo da Bahia ...eu sei eu moro lá
Freqüentam o Axé Opo Afonjá autoridades civis e militares, que ostentam o orgulho de serem ministros de Xangô, ministros, governadores e ex governadores vão as festas , primeiras damas e toda sorte de gestores públicos que administram a cidade , intelectuais que estudam a cidade e seus costumes, seus viveres , seus dramas , não podem dizer que não viram o caus se formando, a desgraça cercando os assentamentos , a pobreza circulando entre os carros de luxo.
Vamos combinar!
Tem uma juventude ai, que quer explodir um par de torre gêmeas em cada comunidade sem esgoto, sem água potável, sem asfalto , sem respeito. Em cada vez que se inaugura uma serie de carro novo que aparece na propaganda da TV, o tênis da hora, a TV de ultima geração, o celular que tira foto , a sociedade de consumo gera seus efeitos colaterais... se ostenta riqueza espere que a faca vem pra dividi-la , de um jeito ou de outro.
O pai do Vice-Prefeito de Salvador , Edvaldo Brito era seu Nezinho de Ogun, Nezinho e seus irmãos e irmãs de santo foram perseguidos por policiais no tempo em que candomblé tinha o a marca da seletividade penal , a policia que é convocada para “dar resposta aos orixás” na retro-mencionada reportagem do Correio da Bahia foi criada em 1826 para combater o quilombo do Órubu, nome do Quilombo comandado por uma arqueira conhecida como Zeferina ( podia ser de Oxossi ). Depois da destruição foi encontrado nos destroços do quilombo um emblema de Xangô.
O Muro que o Axé Opo Afonjá e o movimento social negro precisa erguer, é um muro de proteção das nossas comunidades. De auto proteção para não nos sentirmos isolados de nosso povo em matérias de jornal, dar entrevista falando de um “eles” cósmicos.
Esses meninos armados, famintos e violentos nos anunciam os efeitos do racismo
É bom ouvi-los
Hamilton Borges Walê
Omom Orixá do Ilê Axé Omon Ewa
Campanha Reaja
Quilombo Xis
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