VENTERSDORP (AFP) - O assassinato no sábado do líder de ultradireita sul-africano Eugene Terre'Blanche, que dedicou a vida à defesa da supremacia dos brancos e à manutenção do apartheid, provocou a fúria de seu movimento, decidido a vingar a morte, ao mesmo tempo que o presidente Jacob Zuma pediu calma.
O Movimento de Resistência Afrikaner (AWB), grupo criado por Terreblanche que se opôs com violência à transição pós-apartheid, no começo dos anos 1990, se reunirá em 1º de maio para decidir como responder à morte do líder, que segundo a polícia teria sido assassinado por dois empregados de uma fazenda por uma discussão pela falta de pagamento dos salários.
"Decidiremos as ações para vingar a morte de Terre'Blanche. Vamos agir, e nossas ações específicas serão decididas na conferência de 1º de maio", declarou à AFP o secretário-geral do AWB, André Visagie.
"Ele foi morto a golpes de facões e com tubos de encanamento. Ele foi agredido até a morte", destacou, acrescentando que pediu aos membros do movimento, que pedem vingança, para que "fiquem calmos".
O medo e o ódio eram palpáveis em Ventersdorp (noroeste), povoado de origem de Terre'Blanche e ex-bastião do AWB.
Em frente à fazenda do ex-líder de extrema-direita, onde seu corpo foi encontrado no sábado, dezenas de seus partidários se reuniram.
"Eles (os negros, ndr) matam nossos fazendeiros" , declarou um deles, que pediu para ter sua identidade preservada por medo de "represálias" .
"Matar um idoso assim, enquanto dormia, não há do que se orgulhar", acrescentou. Terre'Blanche tinha 69 anos.
O assassinato reaviva as tensões raciais em um país onde a cor da pele continua sendo um fator de divisão, 16 anos depois do fim oficial do regime do apartheid.
Consciente do que o caso pode provocar, o presidente Zuma pediu calma e que "os sul-africanos não permitam aos agentes provocadores se aproveitar da situação para incitar, ou para alimentar, o ódio racial".
Ao fim do dia deste domingo, Zuma fez um novo apelo à "unidade" política e à "responsabilidade" dos dirigentes políticos do país em suas declarações.
Pedidos semelhantes foram feitos pelo ministro da Polícia, Nathi Mthethwa, e pelo comissário nacional, Bheki Cele, que receberam neste domingo familiares da vítima, segundo a agência de notícias SAPA.
Enquanto isso, o Congresso Nacional Africano (ANC, no poder) informou, por sua vez, que nada pode justificar o homicídio de Terre'Blanche.
"Lançamos um apelo a todos os sul-africanos para que se abstenham de qualquer especulação, os autores (do crime) se entregaram às autoridades a cargo de aplicar a lei", informou o ANC em um comunicado.
Eugene Terre'Blanche, 69 anos, dedicou a vida a defender a superioridade dos brancos. À frente de milícias paramilitares e com um emblema parecido com a suástica nazista, foi contrário ao fim do apartheid no início dos anos 1990.
Ele foi preso em 2001 pela tentativa de assassinato de um guarda negro e deixou a penitenciária em 2004 por bom comportamento. Depois disso caiu em relativo esquecimento.
O corpo do extremista foi encontrado no sábado em sua fazenda de Ventersdorp, na Província do Noroeste. A polícia prendeu dois trabalhadores agrícolas, de 15 e 21 anos, que haviam discutido com Terre'Blanche por um problema salarial.
Os dois, que acusam o chefe de ter se recusado a pagar o salário mensal de 300 rands (40 dólares, 70 reais) e de ter agredido física e verbalmente os dois, serão levados a um tribunal na terça-feira.
Apesar da motivação não parecer política, o AWB vinculou o assassinato de seu líder à recente polêmica sobre uma canção que pede a "morte dos boers" (fazendeiros brancos). A música se tornou famosa entre o movimento jovem do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido que governa o país.
Dois tribunais proibiram a canção que, segundo a oposição e várias associações, estimula a violência racial. Mas o ANC defendeu a música em nome da memória da luta contra o apartheid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário