Há seis meses um terremoto de sete graus na escala Richter devastou o Haiti, o país mais pobre do ocidente, enterrando sua frágil infraestrutura. O desastre matou 230 mil pessoas e seus efeitos secundários – fome, água contaminada, aumento de preços, falta de abrigo e carência de saneamento – ainda afligem os sobreviventes. Por outro lado, aproxima-se a pior temporada de furacões em anos. Artigo de Matthew Berger, da IPS.
Matthew Berger - IPS
Em Washington, funcionários do governo analisaram a tarefa de assistência que resta pela frente. “Passamos da crise imediata e estamos começando a olhar para o longo prazo. Isto é sempre um desafio neste tipo de circunstância”, disse Cheryl Mills, conselheira e chefe de gabinete da secretária de Estado, Hillary Clinton. Mills afirmou que o principal desafio no momento é dar um teto aos desabrigados, ainda alojados em barracas de campanha. Embora a comunidade internacional tenha prometido abrigos suficientes para as 600 mil pessoas, é difícil encontrar terras para construí-los.
Mills disse aos jornalistas, no dia 12, quando completaram exatamente seis meses da tragédia, que a comunidade mundial está comprometida com os esforços para trasladar os sobreviventes para abrigos “onde possam ser alojados de forma confortável durante três a cinco anos antes de se mudarem para moradias permanentes”. Resolver este problema será “um dos maiores desafios para os próximos meses”, ressaltou. Para complicar a situação, furacões podem colocar em risco grande parte dos progressos realizados.
O Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos informou, na semana passada, que estariam se desenvolvendo condições relacionadas com o fenômeno La Niña, que poderiam desatar tempestades no Oceano Atlântico e no Mar do Caribe no curto prazo, afetando seriamente países insulares como o Haiti. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica norte-americana em maio já alertava que a temporada de furacões na região seria entre “ativa e extremamente ativa”. Em 2008, o Haiti foi devastado por quatro furacões.
Em março passado, representantes de governos reunidos na sede da Organização das Nações Unidas prometeram US$ 5,3 bilhões a Porto Príncipe após o terremoto. Contudo, até agora entregaram apenas 10% desse valor. O ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) e o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, que copresidem a Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti, reconheceram esta falta e expressaram o desejo de que o restante do dinheiro chegue logo. “Não havendo prazos confiáveis para os desembolsos, a Comissão não pode planejar, financiar projetos ou responder de forma rápida às necessidades imediatas”, escreveram em um editorial do The New York Times, no dia 9.
Ambos disseram que o Haiti tem sorte de ainda não ter sido atingido por outro desastre natural, e afirmaram que o desembolso dos recursos deve ser racionalizado. No entanto, reconheceram vários progressos. “O processo de reconstrução foi suficientemente rápido e com o alcance que muitos de nós esperavam? Não, não quando tantos haitianos continuam sem teto, famintos e desempregados. Houve progressos? Sem dúvida que sim. Mas devemos, todos os envolvidos na recuperação do Haiti, fazer mais”, afirmaram.
Mills destacou que não houve significativos focos de doenças, e que ainda há muito trabalho pela frente para garantir a saúde da população, não apenas por causa do terremoto, como também pelas más condições que já existiam antes do desastre. “A métrica da saúde (conjunto de indicadores) é muito melhor hoje no Haiti do que antes do terremoto. Isto não é necessariamente considerado uma amostra de como as coisas estão bem, mas uma constatação de alguns dos desafios com os quais se inicia o trabalho em lugares como o Haiti”, ressaltou.
A Organização Mundial da Saúde informou que 90% dos moradores de Porto Príncipe afetados pelo terremoto têm hoje acesso a serviços de saúde, contra 56% dos haitianos antes do desastre. Por outro lado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou que imunizou mais de 275 mil crianças contra potenciais enfermidades mortais.
Rajiv Shah, administrador da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), também apontou a necessidade de “ajudar melhor o Haiti a se reconstruir”. Com exemplo, citou os esforços de Porto Príncipe para capacitar trabalhadores locais em técnicas de construção, para que as paredes sejam entre duas e três vezes mais fortes dos que as existentes antes do terremoto. Apesar dos avanços, permanecem claros problemas. Enorme quantidade de escombros, lixo e esgoto ainda estão nas ruas, segundo as notícias que chegam do Haiti.
“Sabemos que enfrentamos desafios reais e importantes. Um tremendo desafio é como remover 25 milhões de metros cúbicos de escombros, que provavelmente representem 20 vezes mais que os deixados por outras tragédias, como os atentados de 11 de setembro de 2001, em Washington e Nova York”, disse Shah. (IPS/Envolverde)
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