quarta-feira, 24 de março de 2010

Dia de Luta contra Discriminação Racial

Nesse ano completa-se 50 anos do massacre de Sharpeville. Assim ficou conhecido o episódio em que militares sul-africanos atiraram contra uma multidão que se manifestava no bairro de Sharpeville, em 21 de março de 1960. Eles protestavam contra a exigência de passa-porte para o trânsito de pessoas pretas nas ruas do país. Sessenta e nove pessoas foram mortas e cerca de 180 feridas. A repercussão desse ocorrido fez os olhos do mundo se voltar para a questão racial na África do Sul (ou, Anzania, segundo os nativos) e a ONU escolher o dia 21 de março como o Dia  Internacional de Luta Pela Eliminação da Discriminação Racial. 
Esse foi um entre tantos massacres ocorridos contra @s pret@s durante o regime do Apartheid  na Anzania. Numa 

outra manifestação, anos mais tarde, cerca de 700 estudantes foram executad@s quando protestavam contra a obrigatoriedade do ensino da língua Africânder (o idioma dos invasores brancos) nas escolas das comunidades pretas. 
O racismo oficial acabou naquele país com o fim do Apartheid. Porém, ao contrário do que a mídia tenta nos fazer acreditar, o povo da Anzania não lutou mais de 40 anos só para ter o direito de eleger presidentes pretos, mas sim, por justiça social. Os presidentes pretos vem sendo eleitos desde 1994, mas a justiça social parece estar cada vez mais distante. 
Na metade da década atual o desemprego entre os jovens, mulheres e trabalhadores rurais, chegava a 70%. Em boa parte esse desemprego é resultado da onda de privatizações iniciada no governo Mandela. Em outras palavras: o CNA – partido de Nelson Mandela – vende o patrimônio publico construído e mantido na base de muita exploração do povo sul-africano e, ao invés de reparações ele é “indenizado” com demissões. 
O CNA comemora a expansão de serviços como a distribuição de água e energia elétrica. Só que como as tarifas cobradas são altas demais para os baixos salários da população preta empregada, muitas famílias não conseguem pagar suas contas. Assim o fornecimento, tão festejado, é cortado. O caso é tão grave que se fez necessária a criação do Movimento dos Religadores. Os funcionários das distribuidoras cortam o fornecimento e o movimento vai lá e refaz a ligação. 
Com a maior população soropositiva do mundo o governo Mandela cortou o fornecimento do coquetel de remédios que mantém vivas essas pessoas. O Ministério da Saúde chegava a alegar que com tantos curandeiros tribais, o coquetel não era necessário. Na verdade, essa atitude fazia parte de uma política de corte nos gastos do governo para fazer caixa para o pagamento da divida pública contraída durante o governo racista. Boa parte dessa dívida foi feita para equipar os órgãos que reprimiam os movimentos anti-apartheid. E, diga-se de passagem, todos os torturadores e assassinos desse regime foram anistiados pelo governo do CNA. Ou seja, pro CNA chegar à presidência e pro Mandela ganhar o premio Nobel da paz, eles perdoaram todos os que praticaram as mais terríveis brutalidades contra o povo preto da Anzania. 
Além de ter uma população de maioria preta que foi escravizada e segregada por uma minoria branca, a história do Brasil e da Anzania se assemelha por outras razões. Por exemplo, aqui tivemos a lei Áurea e a abertura política dos anos de 1980 – solução encontrada pelas elites brasileiras para frear a reação da classe subalterna. Lá, o Acordo de Kampton Park permitiu, além do fim do apartheid, a subida de Nelson Mandela e seu CNA à presidência sem que os criminosos do antigo regime fossem punidos e que a estrutura econômica fosse alterada – salvo alguns pequenos retoques. Hoje alguns pret@s se tornaram grandes empresári@s e exploram @s trabalhador@s pret@s, exatamente como os brancos racistas sempre o fizeram. 
Para a burguesia não podia ser melhor. Acreditando na possibilidade de mobilidade social @s pret@s vão competir entre si para alcançar a posição de ric@s explorador@s, em vez de se unirem para acabar de vez com essa sociedade dividida entre explorador@s e explorad@s. 
Se temos tantas semelhanças com os sul-africanos, podemos bem aprender com o exemplo que vem de lá. A história recente da Anzania nos ensina que não adianta lutar contra a situação de miséria e opressão do povo preto deixando de pé o capitalismo. Ele é a fortaleza de todos os males sociais dos nossos dias. Lutar para empoderar lideranças pretas que não estejam comprometidas com a transformação radical da nossa sociedade será somente mudar a cor de quem representará a nossa exploração e opressão. O ativista preto sul-africano Steve Biko resumiu a questão em uma frase: “Racismo e capitalismo são duas faces da mesma moeda”. 
Em 21 de março e em todos os outros dias... 
Pelo fim do racismo! 
Pelo fim da sociedade de classes!

Coletivo de Hip Hop LUTARMADA
Movimento Hip Hop Militante
Quilombo Brasil




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