Teresina
abre o primeiro dia mais quente de toda temporada com o asfalto quente
sob os pés dos estudantes, que anunciavam aos filhos do sol do equador,
que o calor logo logo se reverberaria em vitória. Depois de cinco dias
de luta, os manifestantes finalmente puderam gritar para a população "o povo se uniu e a tarifa reduziu".
O prefeito suspendeu o aumento abusivo de 2,10 e manteve o valor de
1,90 por 30 dias. Isso foi sem dúvidas um avanço e uma recompensa para
aqueles que passaram a semana lutando. Mas sabemos que isso não é o
suficiente. Só nos mostra que devemos ficar cada vez mais atentos e
fortes para conseguir finalmente uma tarifa justa e um transporte de
qualidade.
As
manifestações tomavam conta do coração da cidade - a Av. Frei Serafim
foi espaço de muitas lutas. Em muitos momentos a juventude ocupava focos
diferenciados e estratégicos. Inesgotáveis manifestações duravam o dia
todo. Foi assim todos os dias, segunda, terça, quarta, quinta e sexta: a
juventude estava disposta a fazer barricada contra a exploração
descarada da máfia Prefeitura/SETUT. Ao amanhecer, toda a burguesia já
podia sentir
a indignação da juventude nos bolsos; as barricadas impediam que carros
e ônibus transitassem, fazendo com que os patrões decretassem folga
forçada aos trabalhadores.
Para a mídia hegemônica a
criminalização a pauta do dia era: tratar este movimento legítimo como
uma baderna de jovens vândalos, arruaceiros e vagabundos. Sempre
culpando os manifestantes pelo caos instaurado na cidade, acusando-os de
cercear o direito de ir e vir. Quando estes não faziam mais do que
reagir ao abuso de poder cometido pela grande violadora de direitos do
cidadão, a prefeitura, que com o aumento excessivo impedia o povo de
exercer seu direito de ocupar os espaços urbanos com dignidade.
Muito
foi dito dos "excessos" cometidos por parte da juventude. A burguesia
clamava apavorada pelo encerramento deste clima fervoroso de "terror".
Mas nada poderia conter o sol escaldante e o calor nas mentes e corações
inquietos sedentos de água e mais ainda de justiça. Estranhamente não
fizeram uma súplica ao prefeito que tinha o poder de impedir que os
acontecimentos tomassem as proporções alcançadas. Ele sim é o grande
terrorista que foi omisso e permitiu a radicalização. Afinal, situações
extremas pedem medidas e extremas. E essas foram tomadas não por
rebeldia juvenil, sadismo, por fúria impensada ou distúrbio hormonal,
mas sim por necessidade.
Mas o povo oprimido que cansou de ser
espremido pelas engrenagens de um sistema sórdido e falido não se deixou
enganar e nas ruas apoiou a luta dos estudantes. A organização contra o
aumento da passagem já vem se fortalecendo há três meses em Teresina.
Conseguimos congelar o preço da passagem por pelo menos um mês, e agora
conseguimos baixar o preço da tarifa. O que parecia impossível
transbordou em realidade concreta na Praça da Liberdade, donde culminou a
grande comemoração. Como disse Pablo Neruda "É proibido não transformar
sonhos em realidade", mesmo que o spray de pimenta arda em nossos
olhos, mesmo que a cavalaria nos imponha medo, mesmo que a cada
quarteirão tenham homens do estado armados até os dentes". Independente e
livre o povo teresinense mostrou que está preparado para enfrentar essa
e todas as lutas contra opressão e em prol da cidadania plena.
Sara Fontenelle e Vicente Leite para o Centro de Mídia Independente
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