Operação de guerra com 400 policiais, quatro helicópteros, esquadrão antibombas, cavalaria, Grupo de Ação Tática Especial (GATE) e Grupo de Ações Especiais (GAE), que resultou em 73 prisões no campus da Universidade de São Paulo conseguiu a proeza de unir grupos tradicionalmente rivais. Estudantes formulam uma proposta de segurança para a universidade, que inclui a contratação de guardas da própria universidade, escolhidos por concurso público. Assembleia com mais de 2 mil estudantes (foto) votou continuidade da greve.
Fábio Nassif, Caio Mello e Felipe Blumen
Uma coisa uniu a esquerda do movimento estudantil paulista: a repressão policial. Os grupos de esquerda se dividiram em relação à decisão de ocupar a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) em protesto contra uma ação policial ocorrida na semana anterior. Mas, as dissensões foram superadas quando a polícia de Geraldo Alckmin, na última terça-feira, montou um cenário de guerra com uma tropa de 400 policiais, quatro helicópteros, esquadrão antibombas, cavalaria, Grupo de Ação Tática Especial (GATE) e Grupo de Ações Especiais (GAE), que desalojaram à força, no último dia 8, os estudantes que ocuparam a reitoria.
A PM fez 73 presos e conseguiu a proeza de juntar contra ela, na assembleia que decretou greve na universidade no mesmo dia, 2500 estudantes – número que não era atingido desde 2007. Mais do que isso, deu uma boa mão para que os estudantes conseguissem formular uma proposta de segurança para a universidade (que, de fato, tem sofrido com muitas ocorrências, inclusive de estupro): iluminação adequada e guardas da própria universidade, escolhidos por concurso público, controlados pela comunidade e treinados para lidar com o público universitário, especialmente as mulheres, maiores vítimas de violência no Campus.
O repórter Fábio Nassif e os estagiários Caio Mello e Felipe Blumen acompanham o episódio desde o seu início e fazem um relato de como os estudantes da USP se articularam a partir da prisão de seus colegas.
Assista também o vídeo abaixo que conta essa história.
A PM fez 73 presos e conseguiu a proeza de juntar contra ela, na assembleia que decretou greve na universidade no mesmo dia, 2500 estudantes – número que não era atingido desde 2007. Mais do que isso, deu uma boa mão para que os estudantes conseguissem formular uma proposta de segurança para a universidade (que, de fato, tem sofrido com muitas ocorrências, inclusive de estupro): iluminação adequada e guardas da própria universidade, escolhidos por concurso público, controlados pela comunidade e treinados para lidar com o público universitário, especialmente as mulheres, maiores vítimas de violência no Campus.
O repórter Fábio Nassif e os estagiários Caio Mello e Felipe Blumen acompanham o episódio desde o seu início e fazem um relato de como os estudantes da USP se articularam a partir da prisão de seus colegas.
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Greve deflagrada
Por Caio Mello
No dia 8 de novembro, no saguão da História e Geografia da FFLCH, reuniram-se cerca de 2500 pessoas, que discutiram e deliberaram sobre as estratégias de mobilização estudantil. A assembleia geral foi organizada em resposta à presença massiva da polícia para retomar a Reitoria, que havia sido ocupada uma semana antes, e à prisão de 73 estudantes. Os policiais também cercaram o Conjunto Residencial da USP (Crusp) para que os estudantes que lá moram não pudessem sair de suas casas e não se juntassem aos demais manifestantes. Ao seu final, a assembleia deu uma resposta propositiva dos estudantes quanto ao problema da Segurança Pública.
A terça-feira amanheceu ainda com a presença da polícia no campus. A partir daí, organizou-se um cronograma para o dia, com aula pública do professor Paulo Arantes em frente à reitoria e depois plenárias dirigidas nos cursos.
A assembleia se polarizou entre as propostas de indicativo de greve e pela greve imediata. Somente com a separação física das pessoas no plenário foi possível concluir que a decisão da maioria foi pela greve imediata, logo incorporada pelos setores que perderam a votação. Outras questões também foram tratadas, como a criação de um Comando de Greve formada pelos delegados dos cursos e também um calendário pautado para estabelecer um diálogo com a opinião pública e estudantes de outras faculdades.
Grande ponto de polêmica na USP, aprovou-se um programa alternativo de segurança que inclui um plano de iluminação no campus, políticas preventivas de segurança, abertura do campus à população, abertura de concurso público para a constituição de uma guarda universitária, com treinamento para prevenção dos problemas de segurança e com efetivo feminino para a segurança da mulher, aumento do número de ônibus circulares e até a estação de metrô Butantã.
O primeiro dia de greve
Por Felipe Blumen
Desde antes de a proposta de greve ser aprovada na assembleia, algumas barricadas com cavaletes, cadeiras, cones e bancos já haviam sido montadas em frente aos prédios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FLCH) e do Crusp. O Centro Acadêmico do curso de Letras organizou um piquete em frente ao seu prédio. Em vista dos acontecimentos do começo do dia, e sabendo que os estudantes ainda deliberariam sobre o assunto, os professores responsáveis pelos departamentos da Faculdade suspenderam as aulas.
Como foi decidido na assembleia que não seriam feitos ''cadeiraços'', ou seja, que alunos não seriam impedidos de entrar nas salas, a maioria dos professores deu aula normalmente na quarta-feira. Eles foram orientados, no entanto, a liberar os alunos, a fim de que todos pudessem participar das plenárias, nas quais cada curso debateu sua posição sobre a greve.
Várias reuniões foram marcadas para esta semana em diversas unidades da USP. Ocorreram plenárias no Instituto Oceanográfico, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, no Centro Acadêmico de Relações Internacionais, na Escola de Comunicações e Artes, no Instituto de Matemática e Estatística e nos três prédios da FFLCH. A Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, a Adusp também se reuniu.
Estudantes liberados
Depois de passarem toda a terça-feira na 91a Delegacia de Polícia, na Zona Oeste de São Paulo, os alunos que foram presos na reintegração de posse da reitoria da USP conseguiram ser liberados na madrugada. Foram detidos 73 alunos, sendo 24 mulheres e 49 homens.
Todos foram autuados em flagrante e responderão por desobediência a ordem judicial - por não desocuparem o prédio após decisão da justiça - e por dano ao patrimônio - por, segundo a perícia da polícia, danificarem o patrimônio da universidade.
Os estudantes alegam que só ocuparam o andar térreo do prédio e, com exceção do portão de entrada e das câmeras de segurança, mantiveram tudo como estava. Em entrevista ao Jornal do Campus, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, o Sintusp, afirmou que nenhum membro da comissão de negociação formada pelos estudantes foi chamado para acompanhar a vistoria feita pela polícia no prédio da reitoria.
Os alunos foram liberados após pagarem uma fiança no valor de um salário mínimo por pessoa. Passaram por um interrogatório padrão de 12 questões e realizaram exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal, ao lado da delegacia.
Do lado de fora da delegacia, alunos, pais e funcionários protestavam contra a prisão e a atuação da polícia. Uma nota oficial foi feita por um grupo de pais e entregue a uma repórter da Folha de São Paulo. Embora não tenha sido publicada, os autores disseram no ato da entrega que repudiavam a incapacidade da reitoria em negociar com os alunos, recorrendo ao uso de força policial.
Ato, assembleia e mais greve
Por Fábio Nassif
Na quinta-feira, aproximadamente 5 mil pessoas ocuparam as ruas do centro da cidade para protestar e explicar à opinião pública as razões da greve. Enfrentando um forte calor, os estudantes guiaram o ato de cima de um caminhão de som, onde seus representantes fizeram discursos, puxaram palavras de ordem e receberam apoio de outros movimentos sociais.
Com muitos cartazes e faixas nas mãos, o ato prosseguiu até a noite, quando voltou para a frente da Faculdade de Direito no largo São Francisco. A polícia acompanhou a manifestação com câmeras filmadoras na mão.
O ato contou também com a presença de professores da USP como Luiz Renato Martins e Jorge Luiz Souto Maior, além de Plínio de Arruda Sampaio, que discursou a favor da autonomia universitária dizendo que “nem governo, nem polícia, nem Igreja, nem poder econômico, ninguém pode entrar na universidade”, para que ela tenha qualidade intelectual.
Em seguida, os estudantes realizaram mais uma assembleia, com cerca de dois mil presentes. Votaram a manutenção da greve e a convocação de uma audiência pública na quarta-feira (16), às 18h, em frente ao prédio da reitoria, onde convidarão o reitor João Grandino Rodas. Além disso, incorporaram a bandeira de “10% do PIB para educação pública já”.
Nesta sexta-feira, estudantes da Faculdade de Economia e Administração (FEA), Escola Politécnica, Instituto de Matemática e Estatística, e dos cursos de Física, Biologia, Audiovisual e Geografia marcaram reuniões.
Por Caio Mello
No dia 8 de novembro, no saguão da História e Geografia da FFLCH, reuniram-se cerca de 2500 pessoas, que discutiram e deliberaram sobre as estratégias de mobilização estudantil. A assembleia geral foi organizada em resposta à presença massiva da polícia para retomar a Reitoria, que havia sido ocupada uma semana antes, e à prisão de 73 estudantes. Os policiais também cercaram o Conjunto Residencial da USP (Crusp) para que os estudantes que lá moram não pudessem sair de suas casas e não se juntassem aos demais manifestantes. Ao seu final, a assembleia deu uma resposta propositiva dos estudantes quanto ao problema da Segurança Pública.
A terça-feira amanheceu ainda com a presença da polícia no campus. A partir daí, organizou-se um cronograma para o dia, com aula pública do professor Paulo Arantes em frente à reitoria e depois plenárias dirigidas nos cursos.
A assembleia se polarizou entre as propostas de indicativo de greve e pela greve imediata. Somente com a separação física das pessoas no plenário foi possível concluir que a decisão da maioria foi pela greve imediata, logo incorporada pelos setores que perderam a votação. Outras questões também foram tratadas, como a criação de um Comando de Greve formada pelos delegados dos cursos e também um calendário pautado para estabelecer um diálogo com a opinião pública e estudantes de outras faculdades.
Grande ponto de polêmica na USP, aprovou-se um programa alternativo de segurança que inclui um plano de iluminação no campus, políticas preventivas de segurança, abertura do campus à população, abertura de concurso público para a constituição de uma guarda universitária, com treinamento para prevenção dos problemas de segurança e com efetivo feminino para a segurança da mulher, aumento do número de ônibus circulares e até a estação de metrô Butantã.
O primeiro dia de greve
Por Felipe Blumen
Desde antes de a proposta de greve ser aprovada na assembleia, algumas barricadas com cavaletes, cadeiras, cones e bancos já haviam sido montadas em frente aos prédios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FLCH) e do Crusp. O Centro Acadêmico do curso de Letras organizou um piquete em frente ao seu prédio. Em vista dos acontecimentos do começo do dia, e sabendo que os estudantes ainda deliberariam sobre o assunto, os professores responsáveis pelos departamentos da Faculdade suspenderam as aulas.
Como foi decidido na assembleia que não seriam feitos ''cadeiraços'', ou seja, que alunos não seriam impedidos de entrar nas salas, a maioria dos professores deu aula normalmente na quarta-feira. Eles foram orientados, no entanto, a liberar os alunos, a fim de que todos pudessem participar das plenárias, nas quais cada curso debateu sua posição sobre a greve.
Várias reuniões foram marcadas para esta semana em diversas unidades da USP. Ocorreram plenárias no Instituto Oceanográfico, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, no Centro Acadêmico de Relações Internacionais, na Escola de Comunicações e Artes, no Instituto de Matemática e Estatística e nos três prédios da FFLCH. A Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, a Adusp também se reuniu.
Estudantes liberados
Depois de passarem toda a terça-feira na 91a Delegacia de Polícia, na Zona Oeste de São Paulo, os alunos que foram presos na reintegração de posse da reitoria da USP conseguiram ser liberados na madrugada. Foram detidos 73 alunos, sendo 24 mulheres e 49 homens.
Todos foram autuados em flagrante e responderão por desobediência a ordem judicial - por não desocuparem o prédio após decisão da justiça - e por dano ao patrimônio - por, segundo a perícia da polícia, danificarem o patrimônio da universidade.
Os estudantes alegam que só ocuparam o andar térreo do prédio e, com exceção do portão de entrada e das câmeras de segurança, mantiveram tudo como estava. Em entrevista ao Jornal do Campus, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, o Sintusp, afirmou que nenhum membro da comissão de negociação formada pelos estudantes foi chamado para acompanhar a vistoria feita pela polícia no prédio da reitoria.
Os alunos foram liberados após pagarem uma fiança no valor de um salário mínimo por pessoa. Passaram por um interrogatório padrão de 12 questões e realizaram exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal, ao lado da delegacia.
Do lado de fora da delegacia, alunos, pais e funcionários protestavam contra a prisão e a atuação da polícia. Uma nota oficial foi feita por um grupo de pais e entregue a uma repórter da Folha de São Paulo. Embora não tenha sido publicada, os autores disseram no ato da entrega que repudiavam a incapacidade da reitoria em negociar com os alunos, recorrendo ao uso de força policial.
Ato, assembleia e mais greve
Por Fábio Nassif
Na quinta-feira, aproximadamente 5 mil pessoas ocuparam as ruas do centro da cidade para protestar e explicar à opinião pública as razões da greve. Enfrentando um forte calor, os estudantes guiaram o ato de cima de um caminhão de som, onde seus representantes fizeram discursos, puxaram palavras de ordem e receberam apoio de outros movimentos sociais.
Com muitos cartazes e faixas nas mãos, o ato prosseguiu até a noite, quando voltou para a frente da Faculdade de Direito no largo São Francisco. A polícia acompanhou a manifestação com câmeras filmadoras na mão.
O ato contou também com a presença de professores da USP como Luiz Renato Martins e Jorge Luiz Souto Maior, além de Plínio de Arruda Sampaio, que discursou a favor da autonomia universitária dizendo que “nem governo, nem polícia, nem Igreja, nem poder econômico, ninguém pode entrar na universidade”, para que ela tenha qualidade intelectual.
Em seguida, os estudantes realizaram mais uma assembleia, com cerca de dois mil presentes. Votaram a manutenção da greve e a convocação de uma audiência pública na quarta-feira (16), às 18h, em frente ao prédio da reitoria, onde convidarão o reitor João Grandino Rodas. Além disso, incorporaram a bandeira de “10% do PIB para educação pública já”.
Nesta sexta-feira, estudantes da Faculdade de Economia e Administração (FEA), Escola Politécnica, Instituto de Matemática e Estatística, e dos cursos de Física, Biologia, Audiovisual e Geografia marcaram reuniões.
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