Uma nova jornada começará em diversos países rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou dia 26 de julho, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, em Madri, que chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros.
Fabíola Munhoz
Dia 25 de julho foi feriado na Espanha em celebração ao dia de Santiago de Compostela, santo que dá nome a uma famosa rota espiritual e cultural de peregrinos, que conecta diversas zonas da Europa. Nessa data, os participantes do 15-M se reuniram no Parque do Retiro, em Madri, para debater a organização e o planejamento de duas ações espelhadas na Marcha Popular Indignada, que chegou à capital espanhola no último sábado, depois de 29 dias de caminhadas por diferentes cidades da Espanha.
Uma dessas novas jornadas começará em diversos países do continente rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou nesta terça-feira (26) às 18h00, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros.
Os ativistas que se propuseram a essa nova aventura continuarão seguindo o procedimento adotado para a Marcha Popular Indignada: visitar cada comunidade encontrada no caminho, para realizar nesses locais assembleias que permitam a coleta de reivindicações populares. O primeiro ponto de parada dessa nova rota saída da capital espanhola será San Sebastián de los Reyes. Um grupo francês que se somou à peregrinação partiu de Toulouse na manhã de ontem, enquanto outro coletivo deixará Aachen, na Alemanha, no dia 11 de setembro, comprometendo-se a passar pela Holanda. Essas duas rotas se encontrarão no dia 17 de setembro num protesto prévio diante da sede da Comissão Europeia.
Nessa mesma data, a Marcha Popular Indignada espanhola, que conta com representates das acampadas do 15-M em Madri, Barcelona e Cantabria, chegará a Paris, onde se encontrará com outras rotas, vindas de países, como Portugal, Itália, Grécia, Suíça, Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Irlanda. Ainda para esse dia, está previsto o acampamento de 20 mil pessoas no baixo Manhattan, em Nova Iorque. Os participantes dessa ação pretendem se rebelar contra a ordem financeira mundial encabeçada por Wall Street, permanecendo no local durante alguns meses.
Outro protesto itinerante debatido pelo 15-M de Madri terá início no dia 26 de agosto e consistirá na passagem por diferentes povos do Vale de Laciana, na Espanha, para criar espaços de encontro e debate, bem como laços de apoio e solidariedade à defesa da região contra os riscos que sua biodiversidade corre atualmente, devido à abertura de minas de carvão a ceu aberto. Os participantes dessa ação pretendem chegar à montanha de Laciana no dia 5 de setembro, para ali acampar e realizar atividades, que serão transmitidas pela televisão da acampada de Madri, via Internet.
O planejamento dessas mobilizações fez parte do 1º Fórum Social do 15-M, realizado durante manhã e tarde de segunda-feira. Nesse dia, a partir das 17h00, podiam ser vistas frente ao Palácio de Cristal, no Parque do Retiro, centenas de pessoas distribuídas em rodas de discussão sobre Cultura, Educação, Saúde, Pensamento, Economia e Ações Sociais. Participavam dessa conversa não só os militantes do 15-M mais engajados, como também simpatizantes à causa do movimento.
A discussão sobre Economia era de longe a que mais participantes reunia. Ali, pessoas com olhar curioso buscavam compreender melhor as causas da crise financeira que lhes afeta, assistindo à exposição de dois estudiosos da área. Esses dois especialistas indicaram como maior culpado da atual desigualdade social que assola o mundo o sistema financeiro global contemporáneo, que é baseado na lucratividade do crédito e na especulação referente a juros cobrados sobre essas dívidas, em detrimento da atividade produtiva real.
Os dois condutores do debate também criticaram a subserviência dos governos europeus às instituições financeiras, que é refletida na transferência de débitos privados ao erário público, por meio do recorte de direitos sociais para que o dinheiro economizado dessa maneira seja empregado no pagamento de títulos de dívida comprados por Banco Central Europeu e FMI.
Eles ainda defenderam a redução da jornada de trabalho como forma de distribuição de recursos e a exigência de uma investigação rígida sobre a origem da dívida que os povos de países periféricos da Europa são hoje obrigados a pagar, sem que lhes tenha sido dado acesso a informação ou poder de decisão a respeito. Outra proposta do 15-M, lida por um dos estudiosos de Economia, é a responsabilização penal dos líderes das instituições financeiras que desencadearam a presente crise, a exemplo do que sucedeu na Islândia, depois de forte mobilização popular contra as medidas de austeridade econômica praticadas pelo governo do país.
O debate seguia com intensidade, quando foi interrompido pela chegada do prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, que passava por Madri e aceitou o convite de integrantes do 15-M para participar do encontro. Durante sua fala, o economista expressou solidariedade à luta dos indignados e disse que o fato de o atual sistema econômico mundial criar continuamente problemas sociais e ambientais que é incapaz de resolver, sinaliza a necessidade de mudanças urgentes. Stiglitz sugeriu que haja maior controle do mercado financeiro mundial, visto que atualmente ele funciona como fonte de lucro para poucos, e não como impulsor de oportunidades de trabalho e consumo para a população em geral.
Depois dessa rápida intervenção do economista norte-americano, foi aberto um turno de palavra e apresentação de propostas de solução à atual crise econômica. Várias pessoas se habilitaram a falar, enquanto no debate ao lado, cujo tema era Pensamento, um grupo filosofava sobre a necessidade de que os seres humanos tenham um tempo diário de ócio criativo no qual possam refletir sobre as próprias buscas, sem que lhes seja dada como única alternativa o consumo de ideologias prontas. “O trabalho deve ser um direito universal. Mas, a tecnologia que temos hoje permite que a gente trabalhe um mínimo de horas por dia, para que o restante do tempo seja utilizado para pensar e criar, fazendo filosofia. O problema é que atualmente só são financiadas e usadas as tecnologías que podem dar lucro”, compartilhou sua ideia um idoso.
Saí dessa confrontação de ideias interessantes por volta das 21h00 do dia 25, horário em que acontecia, frente à entrada do Congresso Nacional espanhol que é vizinha à Praça Neptuno, a divulgação do documento de reivindicações populares resultante da Marcha Popular Indignada. Nessa apresentação, para a qual havia sido convocada a imprensa em geral, sem que no entanto se vissem jornalistas no local, um jovem militante catalão pediu a palavra para fazer uma denúncia sobre algo que havia passado no bairro Clot, em Barcelona. De acordo com o garoto, durante um protesto contra o despejo de uma família, sem condições de pagar pela hipoteca de seu imóvel, cerca de 20 manifestantes sofreram lesões leves e graves, num confronto com a Polícia.
Em Madri, as coisas não são diferentes. Na terça-feira, dois ativistas do 15-M foram agredidos por um policial, enquanto outro foi identificado, segundo informações de integrantes do movimento. O conflito aconteceu em uma das áreas de acesso ao Congresso Nacional, que desde segunda estava cercado por viaturas da Polícia, já preparadas para evitar que no dia seguinte, quando o Parlamento voltaria à ativa, os indignados pudessem se aproximar dos deputados federais.
Na quarta-feira, quando os militantes se concentrariam às 10h00 frente a uma das entradas do Congresso Nacional, para tentar entregar o documento de reivindicações populares resultantes da Marcha Indignada aos parlamentares, muitos dos jovens que estavam acampados diante do Parlamento e no Passeio do Prado foram desalojados com violência por policiais à partir das 7h00. Diante disso, o 15-M organizou um protesto para chamar a atenção da sociedade a essa repressão policial. O ato, que reuniu mais de mil pessoas, começou às 20h00 em zona do Passeio do Prado próxima à Praça Neptuno, percorrendo Gran Via e Rua de Preciados até chegar à Puerta del Sol.
Enquanto isso, alguns dos "indignados" vindos de outras partes da Espanha preparavam as malas para voltar a seus locais de origem antes de domingo, data inicialmente prevista para o fim do acampamento estabelecido com a chegada da Marcha a Madri. Diante da atual opressão das forças policiais espanholas, parece que os integrantes do 15-M, que se autodenominam não-violentos, já escolheram suas armas: a comunicação com a sociedade, por meio da tomada de ruas e estradas, e também pelo uso da Internet para a criação de formas de expressão alternativas. Exemplo disso é o blog http://tomalaplaza.net/, que reúne informações de diversas acampadas espalhadas pela Espanha.
Uma dessas novas jornadas começará em diversos países do continente rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou nesta terça-feira (26) às 18h00, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros.
Os ativistas que se propuseram a essa nova aventura continuarão seguindo o procedimento adotado para a Marcha Popular Indignada: visitar cada comunidade encontrada no caminho, para realizar nesses locais assembleias que permitam a coleta de reivindicações populares. O primeiro ponto de parada dessa nova rota saída da capital espanhola será San Sebastián de los Reyes. Um grupo francês que se somou à peregrinação partiu de Toulouse na manhã de ontem, enquanto outro coletivo deixará Aachen, na Alemanha, no dia 11 de setembro, comprometendo-se a passar pela Holanda. Essas duas rotas se encontrarão no dia 17 de setembro num protesto prévio diante da sede da Comissão Europeia.
Nessa mesma data, a Marcha Popular Indignada espanhola, que conta com representates das acampadas do 15-M em Madri, Barcelona e Cantabria, chegará a Paris, onde se encontrará com outras rotas, vindas de países, como Portugal, Itália, Grécia, Suíça, Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Irlanda. Ainda para esse dia, está previsto o acampamento de 20 mil pessoas no baixo Manhattan, em Nova Iorque. Os participantes dessa ação pretendem se rebelar contra a ordem financeira mundial encabeçada por Wall Street, permanecendo no local durante alguns meses.
Outro protesto itinerante debatido pelo 15-M de Madri terá início no dia 26 de agosto e consistirá na passagem por diferentes povos do Vale de Laciana, na Espanha, para criar espaços de encontro e debate, bem como laços de apoio e solidariedade à defesa da região contra os riscos que sua biodiversidade corre atualmente, devido à abertura de minas de carvão a ceu aberto. Os participantes dessa ação pretendem chegar à montanha de Laciana no dia 5 de setembro, para ali acampar e realizar atividades, que serão transmitidas pela televisão da acampada de Madri, via Internet.
O planejamento dessas mobilizações fez parte do 1º Fórum Social do 15-M, realizado durante manhã e tarde de segunda-feira. Nesse dia, a partir das 17h00, podiam ser vistas frente ao Palácio de Cristal, no Parque do Retiro, centenas de pessoas distribuídas em rodas de discussão sobre Cultura, Educação, Saúde, Pensamento, Economia e Ações Sociais. Participavam dessa conversa não só os militantes do 15-M mais engajados, como também simpatizantes à causa do movimento.
A discussão sobre Economia era de longe a que mais participantes reunia. Ali, pessoas com olhar curioso buscavam compreender melhor as causas da crise financeira que lhes afeta, assistindo à exposição de dois estudiosos da área. Esses dois especialistas indicaram como maior culpado da atual desigualdade social que assola o mundo o sistema financeiro global contemporáneo, que é baseado na lucratividade do crédito e na especulação referente a juros cobrados sobre essas dívidas, em detrimento da atividade produtiva real.
Os dois condutores do debate também criticaram a subserviência dos governos europeus às instituições financeiras, que é refletida na transferência de débitos privados ao erário público, por meio do recorte de direitos sociais para que o dinheiro economizado dessa maneira seja empregado no pagamento de títulos de dívida comprados por Banco Central Europeu e FMI.
Eles ainda defenderam a redução da jornada de trabalho como forma de distribuição de recursos e a exigência de uma investigação rígida sobre a origem da dívida que os povos de países periféricos da Europa são hoje obrigados a pagar, sem que lhes tenha sido dado acesso a informação ou poder de decisão a respeito. Outra proposta do 15-M, lida por um dos estudiosos de Economia, é a responsabilização penal dos líderes das instituições financeiras que desencadearam a presente crise, a exemplo do que sucedeu na Islândia, depois de forte mobilização popular contra as medidas de austeridade econômica praticadas pelo governo do país.
O debate seguia com intensidade, quando foi interrompido pela chegada do prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, que passava por Madri e aceitou o convite de integrantes do 15-M para participar do encontro. Durante sua fala, o economista expressou solidariedade à luta dos indignados e disse que o fato de o atual sistema econômico mundial criar continuamente problemas sociais e ambientais que é incapaz de resolver, sinaliza a necessidade de mudanças urgentes. Stiglitz sugeriu que haja maior controle do mercado financeiro mundial, visto que atualmente ele funciona como fonte de lucro para poucos, e não como impulsor de oportunidades de trabalho e consumo para a população em geral.
Depois dessa rápida intervenção do economista norte-americano, foi aberto um turno de palavra e apresentação de propostas de solução à atual crise econômica. Várias pessoas se habilitaram a falar, enquanto no debate ao lado, cujo tema era Pensamento, um grupo filosofava sobre a necessidade de que os seres humanos tenham um tempo diário de ócio criativo no qual possam refletir sobre as próprias buscas, sem que lhes seja dada como única alternativa o consumo de ideologias prontas. “O trabalho deve ser um direito universal. Mas, a tecnologia que temos hoje permite que a gente trabalhe um mínimo de horas por dia, para que o restante do tempo seja utilizado para pensar e criar, fazendo filosofia. O problema é que atualmente só são financiadas e usadas as tecnologías que podem dar lucro”, compartilhou sua ideia um idoso.
Saí dessa confrontação de ideias interessantes por volta das 21h00 do dia 25, horário em que acontecia, frente à entrada do Congresso Nacional espanhol que é vizinha à Praça Neptuno, a divulgação do documento de reivindicações populares resultante da Marcha Popular Indignada. Nessa apresentação, para a qual havia sido convocada a imprensa em geral, sem que no entanto se vissem jornalistas no local, um jovem militante catalão pediu a palavra para fazer uma denúncia sobre algo que havia passado no bairro Clot, em Barcelona. De acordo com o garoto, durante um protesto contra o despejo de uma família, sem condições de pagar pela hipoteca de seu imóvel, cerca de 20 manifestantes sofreram lesões leves e graves, num confronto com a Polícia.
Em Madri, as coisas não são diferentes. Na terça-feira, dois ativistas do 15-M foram agredidos por um policial, enquanto outro foi identificado, segundo informações de integrantes do movimento. O conflito aconteceu em uma das áreas de acesso ao Congresso Nacional, que desde segunda estava cercado por viaturas da Polícia, já preparadas para evitar que no dia seguinte, quando o Parlamento voltaria à ativa, os indignados pudessem se aproximar dos deputados federais.
Na quarta-feira, quando os militantes se concentrariam às 10h00 frente a uma das entradas do Congresso Nacional, para tentar entregar o documento de reivindicações populares resultantes da Marcha Indignada aos parlamentares, muitos dos jovens que estavam acampados diante do Parlamento e no Passeio do Prado foram desalojados com violência por policiais à partir das 7h00. Diante disso, o 15-M organizou um protesto para chamar a atenção da sociedade a essa repressão policial. O ato, que reuniu mais de mil pessoas, começou às 20h00 em zona do Passeio do Prado próxima à Praça Neptuno, percorrendo Gran Via e Rua de Preciados até chegar à Puerta del Sol.
Enquanto isso, alguns dos "indignados" vindos de outras partes da Espanha preparavam as malas para voltar a seus locais de origem antes de domingo, data inicialmente prevista para o fim do acampamento estabelecido com a chegada da Marcha a Madri. Diante da atual opressão das forças policiais espanholas, parece que os integrantes do 15-M, que se autodenominam não-violentos, já escolheram suas armas: a comunicação com a sociedade, por meio da tomada de ruas e estradas, e também pelo uso da Internet para a criação de formas de expressão alternativas. Exemplo disso é o blog http://tomalaplaza.net/, que reúne informações de diversas acampadas espalhadas pela Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário