Desde meados dos anos 2000, governo e empresas de comunicação vêm pensando e discutindo o padrão de Rádio Digital a ser adotado pelo Brasil. Diferentemente do que aconteceu com a TV Digital, a escolha do padrão de Rádio Digital está sendo pouquíssimo discutida, e as poucas discussões que vêm acontecendo são enviesadas no sentido pretendido pelas grandes empresas de comunicação ou por uma parcela da esquerda que acredita que a simples adoção de um "padrão brasileiro" bastaria para se garantir a democratização dos meios de comunicação. Como são parcas as pesquisas para um padrão brasileiro, é sensato optar por um sistema de radiodifusão internacional que facilite a integração das pessoas de todas as partes do mundo, as propostas desse grupo na ConfeCom somente fazem sentido quando se olha para o contexto político. Ele forma com o setor empresarial os dois lados de uma mesma moeda onde o que vale é a disputa por poder.
Enquanto isso, o governo já anunciou que a escolha do padrão se dará em breve, e de acordo com o Ministério das Comunicações, o padrão será definido em Fevereiro:
http://www.mc.gov.br/governo-anuncia-sistema-de-radio-digital-ate-fevereiro
O governo já havia decidido de antemão que não seriam alocadas novas faixas do espectro para o rádio digital, diferentemente de como aconteceu na Inglaterra e em vários lugares na Europa, por exemplo, onde o padrão DAB foi o escolhido. Portanto, de acordo com essa pré-definição, existem dois padrões em jogo para a decisão: o HD Radio, norte-americano, e o DRM (Digital Radio Mondiale), europeu.
O HD Radio é um padrão que foi desenvolvido por uma empresa chamada Ibiquity, é um padrão fechado, e possui taxas associadas a royalties e patentes muito superiores ao DRM.
O DRM é um padrão que foi desenvolvido por um consórcio de algumas das maiores empresas de comunicação do ramo, aliadas a rádios estatais e universidades europeias. É um padrão aberto e possui implementações de referência tanto da modulação quanto da demodulação, além de utilizar menos banda espectral que o HD Radio.
O HD Radio funciona nas faixas de Ondas Médias e VHF (FM), e o DRM funciona em todas as faixas de rádio do espectro (OL, OM, OC e VHF).
Apesar do padrão HD Radio ser tecnicamente inferior ao DRM, o lobby norte-americano associado a algumas doações da Ibiquity a grandes empresas de broadcast fez com que as grandes associações brasileiras de transmissão já tenham escolhido um lado para ficar: o do HD Radio.
Alguns desses defensores da "democratização da mídia" estão viajando e querendo propor um padrão novo, brasileiro. Propostas absurdas vêm circulando a algum tempo, e também circularam na Confecom e por isso fica evidente que esse grupo quer mais disputar poder e mostrar que é diferente dos que controlam a mídia do que pensar num sistema de radiodifusão realmente interessante no sentido de possibilitar uma tecnologia que permita integrar as pessoas de todas as partes do mundo.
Nesse contexto entra a posição que vem sendo construída por algumas pessoas de rádios livres desde o último encontro de Rádio Livres em outubro de 2009. Em primeiro lugar, a escolha do governo de não alocar uma nova faixa de frequência para o Rádio Digital foi boa, na medida em que essas rádios livres jamais teriam espaço num multiplex centralizado (no padrão DAB um único transmissor oficial emite várias rádios - autorizadas - em conjunto). Além disso, também está claro que o DRM é de longe o padrão no qual rádios livres e rádios de baixa potência em geral terão condições de operar no sistema digital.
O panorama atual da escolha do padrão é o seguinte: o Inmetro e a Anatel estão fazendo medições de recepção do rádio digital, algumas rádios estão testando o HD Radio (Kiss FM, por exemplo), outras rádios estão testando o DRM (Cultura AM, por exemplo), e o nosso ministro Hélio Costa afirma que em fevereiro irá anunciar o padrão de rádio digital brasileiro.
Pensando no futuro do rádio e lembrando de seu passado, no qual padrões mundialmente aceitos prevaleceram e possibilitaram que inúmeros movimentos sociais se expressassem e revoluções acontecessem, temos que defender o DRM!
Retirado do www.midiaindependente.org
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